Caminhão da Mercedes-Benz abastecido com o BeVant, biocombustível criado pela Be8
Caminhão da Mercedes-Benz abastecido com o BeVant, biocombustível criado pela Be8 | Crédito: Divulgação

A Be8 iniciou nesta semana um teste de seu novo biocombustível, o Be8 BeVant, em uma parceria com a Mercedes-Benz.

Em uma jornada de mais de 4 mil quilômetros do Sul ao Norte do País, dois caminhões e dois ônibus de última geração da fabricante alemã serão abastecidos com BeVant ou com biodiesel. A ideia é comparar as performances dos combustíveis em um teste “lado a lado”.

Um caminhão Actros 2553 e um ônibus 0500RSDD usarão o diesel regular comercial, que hoje tem uma mistura de 15% de biodiesel, enquanto outro caminhão e outro ônibus de mesmos modelos usarão o BeVant.

O biocombustível tem a vantagem de poder ser produzido a partir de diversas matérias-primas, segundo a Be8. A lista inclui óleos vegetais, como soja, algodão, canola e girassol, gorduras animais, como óleo de frango, sebo bovino e graxa suína, e óleos reciclados.

Ainda segundo a Be8, o BeVant é compatível com motores a diesel e é uma alternativa mais limpa ao B15, o diesel convencional misturado com 15% de biodiesel desde a entrada em vigor do novo mandato, em agosto.

Também é uma opção mais acessível do que o HVO, da sigla em inglês para óleo vegetal hidratado. Tido como o “diesel verde”, ainda não tem fabricação no Brasil, e tem custo estimado mais alto que o BeVant, explicou Erasmo Carlos Batistella, CEO da Be8.

“É um concorrente do HVO, que hoje custaria o dobro do diesel, enquanto o BeVant custa 10% a mais que o diesel”, afirmou Batistella nesta quinta-feira durante evento de apresentação na sede da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo.

Segundo ele, o BeVant já passou por mais de 5 mil horas de testes de prova em mais de 32 aplicações em distintos modais — além do rodoviário, também pode ser usado no ferroviário e no marítimo.

“Ele entrega descarbonização comparativa de no mínimo 50%, além de ter teores mais baixos de glicerídeos e 35% menos água. E, como todos os biocombustíveis, gera 13 vezes mais PIB do que a produção do diesel. Além de ser bom para o mundo, é bom para a economia, também.”

Redução de 65% nas emissões

Após a partida da sede da Be8 em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a ideia é chegar em 5 de novembro em Belém, no Pará, que vai sediar a COP30 entre os dias 10 e 21 do mês que vem.

O primeiro trecho já foi realizado: os caminhões e ônibus deixaram a cidade gaúcha na terça-feira e chegaram na noite de quarta-feira a São Bernardo do Campo.

O Instituto Mauá de Tecnologia será o responsável por auditar o procedimento e o método de cálculo das emissões dos veículos envolvidos no teste, assegurando a confiabilidade dos dados, segundo a Be8 e a Mercedes-Benz.

O centro de pesquisa vai avaliar a porcentagem de redução de emissões de CO2 equivalente e o volume nominal, em toneladas, do CO2 que deixou de ser emitido. Em ambos, o cálculo considera todo o percurso produtivo do biocombustível, “do tanque à roda”.

Os resultados da primeira perna da viagem foram divulgados, com destaque para a redução de 65% nas emissões de gases causadores do efeito estufa na comparação com o diesel.

Em volume nominal, a redução observada nos dois veículos abastecidos com o BeVant foi de 532 toneladas de CO2 equivalente — isso representa as emissões anuais de cerca de 115 carros de passeio, ou o mesmo que deixar de queimar 200 mil litros de diesel.

Agora, os veículos vão completar o percurso até a cidade amazônica atravessando nove Estados e o Distrito Federal, com quatro paradas para reabastecimento e medições de emissões — além de São Bernardo do Campo, também em Brasília, Palmas e Belém.

Na chegada, a gigante automotiva vai doar 1680 cestas básicas para comunidades vulneráveis em Belém.

“O experimento envolve parâmetros técnicos robustos, transparentes e auditáveis para quantificar o impacto ambiental em todo o ciclo produtivo”, comentou Luiz Carlos Moraes, diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil.

Segundo ele, os testes no Brasil fazem ainda mais sentido quando se lembra que a operação brasileira é a maior do mundo da fabricante depois da própria Alemanha. E, daqui para frente, a ideia é fazer mais testes junto a clientes que demonstrem interesse, principalmente frotistas.

“Eles receberão o biocombustível e suporte técnico, ferramentas e manutenção. Hoje, todos os nossos veículos já saem de fábrica aptos a rodar até o B20, e estão prontos para o BeVant”, afirmou Moraes, citando o mandato futuro da mistura obrigatória de biodiesel no diesel, hoje em 15% (B15).

Segundo Batistella, a capacidade atual de produção do BeVant é de 120 mil litros por dia. Ainda é pouco perto da estimativa de consumo de diesel no País em 2025, de 69,3 bilhões de litros, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), mas há potencial para expandir conforme a demanda cresça.

“O que imaginamos para esse produto é fazer novos investimentos conforme cheguem as demandas, inclusive em regiões do Brasil nas quais ainda não atuamos. Essa rota é uma das iniciativas para popularizar essa nova molécula de biocombustível que se soma às outras alternativas de descarbonização”, completou.