ENTREVISTA

Pode faltar fosfatados para o plantio da soja, diz Mosaic

Produtores adiam as compras à espera de queda no preço do fertilizante, o que não deve acontecer, alerta Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic no Brasil

Fertilizantes, margem da soja, fosfatados

Uma mudança relevante no quadro de oferta global de fertilizantes fosfatados pode resultar em escassez do insumo para o plantio da soja a partir de setembro. O alerta é de Eduardo Monteiro, country manager no Brasil da Mosaic, uma das maiores empresas de fertilizantes no mundo.

Os preços dos fertilizantes fosfatados, ou MAP, estão em alta generalizada, refletindo uma restrição nas exportações da China, que por muitos anos foi o principal fornecedor global do insumo. Diante do aumento dos preços, muitos produtores estão adiando as compras para a safra 2025/26, à espera de uma queda nas cotações. O problema, segundo Monteiro, é que os preços não devem cair.

“O que está influenciando o preço do fósforo não é a demanda, e sim a oferta”, disse Monteiro em entrevista ao The AgriBiz. “Se o agricultor continuar postergando a sua decisão de compra na expectativa de que os preços vão cair, ele pode se surpreender. Além de encontrar preços ainda mais altos, ele pode não receber o produto a tempo para o plantio”, acrescentou.

Além da menor oferta — a China reduziu as exportações em quase 70% até março deste ano com o aumento de uso de fósforo para produção de baterias para carros elétricos —, ao atrasar os pedidos o agricultor aumenta o risco logístico.

Da China, que responde por 25% das importações brasileiras de fósforo no segundo semestre, os navios demoram 90 dias para chegar ao País. Portanto, o agricultor tem até o mês de junho para decidir e assegurar o recebimento em tempo de usar o produto na próxima safra.

Até a semana passada, 57% das vendas de fertilizantes estimadas para 2025 já haviam sido realizadas, um atraso ante os 65% do mesmo período do ano passado, segundo cálculos da Mosaic. O atraso é puxado pela comercialização do fósforo, que está aproximadamente 15 pontos percentuais atrás das vendas de potássio.

“Vínhamos numa toada boa, mas faz três semanas que o mercado deu uma boa reduzida”, observou Monteiro.

O agricultor colocou o pé no freio devido a uma piora na relação de troca entre os preços das commodities e dos fertilizantes, mas o chefe da Mosaic no Brasil lembra que, considerando safra de soja e safrinha de milho, os números continuam melhores do que em anos anteriores para o produtor.

E ressalta: quanto mais o tempo passa, pode haver uma corrida para as compras de fosfatados — situação que pode elevar ainda mais o preço do fertilizante.

Novo padrão

O atraso na comercialização dos fosfatados é mais um exemplo da mudança no comportamento de compra dos agricultores observada desde a guerra da Ucrânia, em 2022.

Com o temor de escassez do produto, produtores e revendas anteciparam suas compras, provocando uma alta nos preços. Mas, em vez da escassez, acabou sobrando fertilizantes, levando a uma alta histórica nos estoques. Os preços caíram, levando toda a cadeia a prejuízos durante o processo de ajuste.

Desde então, o mercado de insumos vem funcionando “da mão para a boca”, o que aumenta os riscos de toda a operação. Monteiro lembra que, no ano passado, o produtor também retardou a compra de insumos, mas deu tudo certo porque São Pedro ajudou. As chuvas atrasaram, estendendo a janela da semeadura. Mas, neste ano, os modelos climáticos não indicam atraso no período chuvoso, alertou o executivo.

“Teremos um desafio logístico importante”, disse ele, referindo-se tanto ao desembarque das mercadorias nos portos como ao transporte interno de fertilizantes.

Sob o ponto de vista de abastecimento, Monteiro diz que a Mosaic não corre esse risco, pois não depende das importações da China. “Temos produção própria e uma parcela importante vem dos Estados Unidos. Mas o mercado depende da China. Nossa preocupação é, sobretudo, com a agricultura brasileira.”

Risco de crédito

O mercado de fosfatados não é o único ponto de atenção da Mosaic para a safra 2025/26. Monteiro disse que também vem acompanhando com preocupação o risco de crédito no agronegócio — que vem aumentando junto com a taxa Selic, hoje em 14,75% ao ano. Na ponta, os agricultores com boa análise de crédito têm tomado empréstimo a taxas de 18% a 20% ao ano, observa o executivo.

“Isso é muito desafiador, custa muito caro para o produtor. A taxa de juros vem aumentando a sensação de risco de crédito no mercado e refletindo em alguns pedidos de recuperação judicial que vêm aparecendo”, afirmou. “Na Mosaic, temos uma gestão de risco muito efetiva e ferramentas para monitorar isso. Mas é um ponto de atenção.”

No mercado de distribuição de insumos, Monteiro vê uma readequação entre os players, com as cooperativas e as tradings ocupando espaço das grandes redes varejistas, que têm diminuído a sua participação em meio ao fechamento de lojas e dificuldades financeiras.

Para ele, não há gargalos na distribuição que estejam atrapalhando o planejamento da próxima safra. “A equação de crédito vai ser fechada, mas com juros muito altos.”