ENTREVISTA

Mosaic prepara nova fase com foco em bionutrição e fábrica no Mapito

"Dentro de cinco anos, esperamos ser um dos líderes no mercado de bionutrição", diz Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic no Brasil

Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic no Brasil | Crédito: Divulgação
Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic no Brasil: “Seremos líderes no mercado de bionutrição” | Crédito: Divulgação

Depois de anos difíceis no mercado de insumos, a Mosaic está pronta para crescer. O principal marco dessa nova fase acontecerá no dia 16 de julho, com a inauguração de sua nova fábrica em Palmeirante, no Tocantins.

A unidade, que recebeu R$ 400 milhões em investimentos, vai adicionar 500 mil toneladas às entregas da companhia só este ano, garantindo um crescimento de 15% aos volumes da Mosaic em 2025.

A companhia americana espera aumentar as vendas no Brasil de 10 milhões para 10,8 milhões de toneladas este ano em meio a uma forte demanda. Cerca de metade dos volumes esperados para a fábrica de Palmeirante já estão comprometidos.

A localização da planta, que deve produzir 1 milhão de toneladas por ano em plena capacidade, foi escolhida a dedo. Além de estar instalada na nova fronteira agrícola brasileira, onde a demanda deve continuar crescendo, a unidade de Palmeirante também tem uma vantagem logística interessante. Ela está localizada à beira da ferrovia da VLI.

“São quase 1 mil quilômetros de ferrovia do porto de São Luís até a nossa fábrica. O produto sai do vagão direto para o nosso armazém”, disse Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic no Brasil, em entrevista ao The AgriBiz.

Ao se conectar com o modal ferroviário, a Mosaic garante prioridade na atracação dos navios — o que pode fazer diferença em anos de maior competição logística como o atual. Além disso, cerca de 20 mil caminhões deixarão de transitar da capital maranhense até Palmeirante, contribuindo com as metas de sustentabilidade da Mosaic.

A inauguração da nova fábrica acontece em um momento favorável para o mercado brasileiro de fertilizantes. Para Monteiro, as entregas devem atingir 49 milhões de toneladas este ano, um crescimento de 3 milhões de toneladas em relação a 2024.

Depois de colher uma safra recorde, o produtor vai precisar repor os nutrientes do solo, garantindo o aumento na demanda, segundo o executivo. A renda do produtor de grãos está num bom patamar e é melhor ainda no caso de outras culturas, como café, citrus e cana.

A briga tarifária entre os Estados Unidos e a China também acabou ajudando os produtores brasileiros que souberam aproveitar os picos de dólar e prêmio da soja para fechar algumas operações. “Houve uma movimentação muito intensiva no mercado de fertilizantes há uns dois meses”, disse.

Liderança em bionutrição

O mercado de bioinsumos é uma outra aposta da Mosaic no Brasil, visto pela companhia como “o motor de crescimento dos biológicos no mundo”, nas palavras de Alexandre Alves, diretor da Mosaic Bioscences no País.

Mas o grande diferencial da multinacional nesse mercado está empacado na regulamentação da lei dos bioinsumos. Segundo Alves, a legislação atual não permite a aplicação de microorganismos e produtos a base de biológicos em fertilizantes minerais. E, pela característica dos bionutrientes mais inovadores da Mosaic, a empresa precisa que a nova regulamentação autorize esse tipo de aplicação para lançá-los no Brasil.

“A lei que foi aprovada em 2024 é um livro em branco. Agora, é preciso escrever as instruções normativas, e estamos trabalhando junto ao Mapa para que possamos usar esses microorganismos”, disse Alves.  A expectativa é que isso ocorra até o final deste ano.

“Temos no nosso pipeline soluções inovadoras que trazem de duas a três sacas a mais de produtividade por hectare. São produtos que só não trouxemos para o Brasil ainda porque a legislação precisa ser regulamentada. Quando esse processo estiver concluído, vamos entrar forte, usar toda a nossa capilaridade e a nossa presença de mercado”, disse Monteiro.

Um dos produtos da Mosaic à espera da regulamentação é o Power Coat, que já conquistou 25% de participação de mercado no Canadá. Segundo Alves, o produto reúne um mix de bacilos que otimiza os nutrientes provenientes dos fertilizantes tradicionais, do solo e da raiz das plantas.

Outro produto em fase de registro é o Envirant, voltado para o tratamento industrial de sementes de soja e de milho, estendendo o shelf life das sementes tratadas com biológicos a até 18 meses — hoje, microorganismos aplicados nas sementes não sobrevivem mais do que 90 dias. “O agricultor vai pegar a semente, abrir e plantar. Não vai precisar retratar”, disse Alves.

Os dois produtos estão em fase de registro no Brasil — e o Envirant deve ter o seu lançamento global no País. “Dentro de cinco anos, esperamos ser um dos líderes no mercado de bionutrição. Vamos entrar para ser líder”, afirmou Monteiro.

Na visão da Mosaic, os bionutricionais vêm para melhorar a eficiência dos fertilizantes minerais e a rentabilidade do produtor. “Temos 85% dos fertilizantes importados. Precisamos otimizar cada grão de fertilizante”, disse Alves.

Otimizando o portfólio

O plano da Mosaic para ocupar a liderança no mercado de bionutrição é parte de uma estratégia mais ampla da companhia, que, além de apoiar uma agricultura mais sustentável, busca otimizar o seu portfólio de ativos buscando margens maiores.

Outras iniciativas têm sido implementadas no Brasil nesse sentido. A empresa está buscando um parceiro para explorar reservas de nióbio que possui em Araxá (MG) e para a sua operação no complexo de Taquari-Vassouras, em Sergipe. Em janeiro deste ano, vendeu uma mina de fosfato desativada em Patos de Minas (MG) por US$ 125 milhões.

Além disso, a companhia vem ampliando a comercialização de subprodutos da atividade de mineração, como o gesso e outros produtos vendidos a fabricantes de fertilizantes organominerais, segundo Monteiro.