Sementes de soja Agrogalaxy

Em uma safra marcada por escassez de crédito no campo, a Boa Safra conseguiu transformar a carteira de pedidos em faturamento, voltando a crescer depois de uma temporada de cautela para fugir dos riscos de crédito das revendas.

No balanço que divulgou nesta terça-feira, a sementeira veio com um salto de 56% em vendas no terceiro trimestre. Ao todo, a Boa Safra registrou uma receita líquida de R$ 1,1 bilhão.

O crescimento reflete a carteira de pedidos recorde de R$ 1,6 bilhão formada no primeiro semestre, quando a companhia adotou uma abordagem comercial agressiva que chegou a que render críticas (e ameaça de um processo no Cade) de concorrentes em Mato Grosso.

Em entrevista a jornalistas, o CEO da Boa Safra, Marino Colpo, disse que há ainda mais crescimento para ser extraído neste quarto trimestre.

“No norte do Brasil, ainda não choveu. Tem estados como Bahia, Maranhão, Piauí, Tocantins, regiões que ainda não embarcaram a semente. Isso faz com que o faturamento escorregue de um trimestre para o outro”, afirmou.

Levantamento da Veeries divulgado nesta terça-feira mostra que 35% da área nacional já foi semeada — mas outros 40% estão com o plantio atrasado, principalmente pela irregularidade das chuvas.

No fim de setembro, a carteira de pedidos da Boa Safra somava R$ 862 milhões, o que significa que a companhia conseguiu coletar mais pedidos ao longo do terceiro trimestre, mas talvez não o suficiente para agradar aos analistas. “Tivemos R$ 300 milhões em novos pedidos”, disse o empresário.

Em relatório, o analista Leonardo Alencar, da XP Investimentos, afirmou que o nível de conversão de pedidos em faturamento terá de repetir o desempenho do quarto trimestre de 2023 para bater a atingir o consenso de mercado de R$ 2,5 bilhões para a receita líquida neste ano.

Há dois anos, a Boa Safra reportou uma carteira de R$ 506 milhões no fim do terceiro trimestre, mas conseguiu faturar quase 60% a mais (R$ 800 milhões) no quarto trimestre.

Agora, esse salto parece improvável. Em entrevista, a própria Boa Safra projetou um faturamento 20% superior à carteira, o que já incorpora as previsões de vendas de última hora, incluindo vendas spot para replantio.

Margem cai

Para voltar a crescer, a Boa Safra cedeu em lucratividade.

Com despesas com vendas mais intensas, reflexo do investimento em equipe para fazer uma carteira de maior e menos dependente de grandes contas, a sementeira goiana perdeu 1,3 ponto percentual de margem Ebitda, na comparação anual. No terceiro trimestre, a margem ficou em 10%.

“Realmente, estamos num ano mais difícil de repassar preços. Crescemos muito em receita de um ano para o outro, fizemos mais entregas para clientes, o que também diminui nossa margem”, admitiu Felipe Marques, diretor financeiro e de relações com investidores da Boa Safra.

Afora as despesas com vendas, a sementeira gastou mais com juros, reflexo da emissão de R$ 1 bilhão em CRAs. No terceiro trimestre, as despesas financeiras aumentaram 46%, totalizando R$ 36 milhões.

No período, a companhia também fez uma provisão de R$ 2 milhões para prever perdas com devedores duvidosos. É pouco para o tamanho do balanço, mas mexe o ponteiro do trimestre.

Com resultado disso tudo, o lucro líquido do trimestre caiu 1,7%, ficando em R$ 34,4 milhões. Mas esse ainda é um número pouco relevante para avaliar a estratégia da sementeira.

Para fontes do mercado de sementes, os resultados do forte crescimento da Boa Safra só poderão ser avaliados com mais precisão a partir de 30 de abril. Depois de converter pedidos em faturamento, os observadores estarão atentos à capacidade da companhia receber no prazo.