
Não faz muito tempo que o BR Angels virou seu olhar para o agronegócio — e gostou do que viu.
O grupo de investidores-anjo criou no início deste ano um braço dedicado a startups do agro, as agtechs. O pioneiro investimento da nova frente é o aporte de R$ 2,2 milhões que está liderando na Olho do Dono. O BR Angels participa com mais de 50% do valor da rodada, que deve acabar em outubro.
A startup criou uma solução de pesagem de bovinos e suínos sem usar balanças. A ideia foi a vencedora da edição 2018 do TechCrunch Startup Battlefield, um concurso de startups promovido pelo site americano especializado em inovação TechCrunch em parceria com o Facebook.
“A Olho do Dono já tem e vai ter ainda mais interesse de grandes players da pecuária. Nosso objetivo é ajudar a startup a prosperar, fomentando a adoção por parte desses gigantes e, quem sabe, uma venda no futuro”, diz Orlando Cintra, CEO e fundador do BR Angels.
Ele explica que a ideia inicial era dissolver um total de R$ 5 milhões em aportes ao longo de um horizonte de médio prazo. Mas, diante do sucesso na captação e na seleção de potenciais agtechs investidas, esse horizonte deve ser encurtado, e pode haver mais um “batch” voltado para o agro em breve, com o mesmo dry powder — no jargão da indústria para o total levantado para investimentos e ainda não aplicado.
“A ideia era investir em três startups, incluindo a Olho do Dono. Já temos a segunda alinhada, de análise preditiva baseada em big data. Mas o agro é extenso, e temos rastreado muitas startups maduras e interessantes. O funil está aquecido. Arrisco dizer que abriremos muito rapidamente um segundo batch”, diz Cintra.
O esforço para falar a língua do agro inclui uma recente parceria com o braço de inovação da PwC no Brasil, o PwC Agtech Innovation, para aproximar as mais de 800 startups que integram o hub e os investidores-anjo do BR Angels.
Segmentação
A segmentação por indústrias é uma estratégia recente, adotada há um ano e meio. O objetivo é qualificar o funil, acessando mais e melhores startups, e intensificar a capacidade de contribuição da rede de investidores-anjo para os negócios.
Além do braço de agro, o BR Angels tem outros três temáticos, para healthtechs, tecnologia — incluindo IA e fintechs — e economia real. Existe ainda uma rede dedicada às mulheres, tanto investidoras-anjo quanto investidas.
“Passamos a separar em times os membros que conhecem mais de cada setor. Essa segmentação se paga muito, porque permite acessar o que há de melhor em cada nicho”, diz Cintra.
Ele reforça que a ideia é participar nas investidas além do financeiro, com outras contribuições — o chamado “smart money”.
“Em nossa avaliação, levamos em conta o quanto conseguiríamos ajudar uma startup com aberturas de portas, aconselhamentos e mentorias. Para o empreendedor, claro que o dinheiro é importante, mas o que mais importa é essa ajuda no dia a dia. Com esse casamento, deixamos os fundadores maiores e obtemos mais retorno financeiro.”
O potencial de agregar mais do que dinheiro foi um dos atrativos para o empreendedor Pedro Henrique Mannato, CEO e fundador da Olho do Dono.
“Para escalar, precisávamos de um parceiro que contribuísse com vendas e marketing. E a velocidade da integração desde o primeiro contato foi marcante: ainda na fase de negociação do aporte, a gente já teve quatro indicações de pecuaristas interessados que chegaram por meio da rede do BR Angels”, ele comenta.
Meta ambiciosa para os exits
Desde sua fundação, em 2019, o grupo investiu R$ 70 milhões em 36 startups de vários segmentos — a iRancho, uma plataforma de gestão pecuária, e a Inspectral, de monitoramento ambiental, florestal e de recursos hídricos, foram as primeiras no agro, antes da criação do braço específico para o setor.
O ticket médio dos aportes é de quase R$ 2 milhões, oscilando entre R$ 500 mil e R$ 5 milhões. “É bem elástico, e o topo até foge um pouco do investimento-anjo, se aproximando de um pré-Série A”, diz Cintra.
São cerca de 450 membros no BR Angels, principalmente pessoas físicas “de perfil C-Level”. Há também alguns investidores corporativos.
O grupo aceita candidaturas, mas prospecta novos investidores-anjo principalmente por meio da rede de relacionamentos. O valor do investimento dos membros a cada rodada oscila, mas na média fica em torno de R$ 20 mil, diz Cintra.
A estrutura financeira inclui um FIP proprietário, sob gestão da ID Gestora, e a cada novo aporte em uma startup é feita uma convocação para avaliar quantos membros querem participar, e com quanto.
“Hoje, é difícil ter uma rodada na qual já não tenhamos todo o dinheiro. É mais comum ter sobra, com mais gente querendo entrar do que espaço.”
Até aqui, foram cinco exits — as saídas, como são chamadas as vendas parciais ou totais das participações nas investidas, momento em que o investimento-anjo é realizado.
Cintra não divulga valores ou percentuais de valorização, mas diz que a meta do BR Angels é ambiciosa. “Não entramos em nenhum investimento para buscar menos do que dez vezes na saída em um espaço de tempo curto. Se o horizonte for maior, a expectativa também cresce.”