A escalada tarifária entre os Estados Unidos e China, que impuseram taxas médias de 145% um ao outro, é vista por muitos como uma oportunidade para o Brasil ampliar as suas exportações para o gigante asiático, especialmente de soja, o principal item da pauta comercial entre os parceiros.
Para analistas do Insper, a guerra comercial pode ser um estímulo para o Brasil adicionar valor às suas exportações, tirando vantagens que podem ir bem além da exportação de soja em grão — para isso, o País precisa de uma estratégia.
A chave está em aliar a janela aberta pela guerra comercial ao aumento da mistura obrigatória do biodiesel ao diesel de 14% para 15% — o que estava previsto para acontecer em março e acabou sendo adiado por causa de pressões inflacionárias. Mesmo após um recuo significativo no preço do óleo de soja, a retomada do cronograma ainda não tem data para acontecer.
Além dos benefícios domésticos, como a redução na importação do diesel fóssil, o aumento no processamento de soja estimulado pelo B15 resultaria também em um aumento relevante na produção de farelo de soja, reduzindo os custos para a produção de carnes e aumentando a competitividade dos exportadores de proteínas no mercado internacional, avaliam os pesquisadores do Insper liderados por Marcos Jank.
No processamento da soja, 80% da oleaginosa é convertida em farelo de soja e 20% em óleo, usado na produção de biodiesel.
O aumento da mistura também poderia ajudar os processadores de soja, que já preveem uma redução nas margens de esmagamento com o potencial aumento de demanda da China por soja em grão do Brasil, afirmou Jank, coordenador do Insper Global Agro.
“Há uma chance de ouro e única para o Brasil implementar mais biodiesel. Ele abre um horizonte muito mais amplo do que ficar exportando só grão de soja. É uma oportunidade de adicionar valor à produção”, disse Jank ao The AgriBiz.
A estratégia também evitaria o risco de o Brasil ficar ainda mais dependente da China nas exportações de soja — o país asiático compra mais de 70% dos embarques brasileiros.
Já no comércio de proteínas, há espaço para avançar, principalmente com as tarifas impostas pela China às carnes dos Estados Unidos. A avaliação é que o País pode ocupar um espaço deixado pelos americanos, especialmente em suínos.
“Em vez de simplesmente ficar olhando quem ganha com a guerra comercial, deveríamos nos preocupar em construir bases mais sólidas de acesso a mercados”, disse Jank. “Tem uma pilha de coisas em cima da mesa em que deveríamos estar centrados, e isso inclui a estratégia para o biodiesel”.