Revendas

Governo deveria agir e dar liquidez ao agricultor, diz CEO da Lavoro

“O governo precisa ajudar porque o crédito privado pode estar assustado”, afirmou o CEO da Lavoro, maior rede de revendas agrícolas do País

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Para o CEO da Lavoro, governo precisa agir | Crédito: Guilherme Martimon/MAPA
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura. Para o CEO da Lavoro, governo precisa aumentar crédito ao setor |Crédito: Guilherme Martimon/MAPA

A repercussão da recuperação judicial da Agrogalaxy rondou pelo menos três perguntas dos analistas ao CEO da Lavoro, Ruy Cunha, durante a teleconferência de resultados na manhã desta sexta-feira. Para o executivo, no entanto, essa não deveria ser a discussão.

Quando o assunto é um caso específico, o Brasil perde tempo para o que é de fato relevante para resolver a crise de liquidez que atinge uma parcela relevante de agricultores de pequeno e médio porte — justamente os clientes típicos das revendas agrícolas.

“Fala-se de um player ou outro, mas o que na verdade deveríamos estar discutindo é como melhorar o acesso ao crédito. O governo precisa ajudar porque o crédito privado pode estar assustado. Precisa de algum tipo de medida para facilitar essa volta de liquidez”, sugeriu Cunha, em entrevista ao The AgriBiz.

Para demonstrar a escassez de crédito na agricultura, o executivo citou dados do Banco Central. No terceiro trimestre, por exemplo, o crédito público e privado para agricultores encolheu R$ 50 bilhões, saindo de um desembolso de R$ 164 bilhões entre julho e setembro de 2023 para R$ 113 bilhões no mesmo período deste ano.

A grande questão é resolver problema de liquidez, até porque não existe um estrutural. Para o CEO da Lavoro, o agricultores têm problemas de liquidez, mas não estão insolventes. No médio prazo, argumentou, a tendência é que o fluxo de caixa das próximas safras melhore a estrutura de capital dos agricultores.

Antes disso, no entanto, talvez seja necessário prover liquidez, inclusive para acalmar os mercados. Desde a recuperação judicial da Agrogalaxy, a aversão do investidores à agricultura aumentou. O nervosismo pode ser aferido a partir da indústria de Fiagro. No pregão desta sexta-feira, por exemplo, fundos como XPCA11 e JPGX11 — ambos com revendas no portfólio — caem 7% e 4%, respectivamente.

Mas a liquidez de curto prazo não é o único ponto. Cunha argumenta que é preciso ir além nos mecanismos estatais. Para ele, o Plano Safra — principal política pública para o financiamento da agricultura — já não é mais suficiente. “Esse modelo de Plano Safra não está sendo mais eficiente. O valor é insuficiente e crédito privado precisa de segurança de garantias”, acrescentou.

Em entrevista ao The AgriBiz, Cunha voltou a citar aquela que talvez seja a maior fragilidade no financiamento da agricultura: a ausência de um seguro de renda, nos moldes do que os Estados Unidos possui. “Poucas coisas são mais relevantes do que essa discussão”, prosseguiu o CEO da Lavoro.

Enquanto isso não existir, as crises de liquidez que de tempos em tempos atingem a agricultura — uma atividade naturalmente cíclica, com riscos climáticos, de preços e câmbio —, castigam os diversos elos da cadeia produtiva, das revendas aos fabricantes de insumos.

“A falta de liquidez tem provocado um alongamento do contas a receber e do contas a pagar, o que afeta o capital de giro”, lembrou Cunha. Num momento de Selic em alta, isso pode ser ainda mais caro.

A estrutura de capital da Lavoro

No caso da Lavoro, o executivo demonstrou confiança com a recomposição das margens ao longo da safra, mas admitiu que a companhia mantém conversas com investidores para fazer uma eventual capitalização, com uma reportagem da Bloomberg indicou recentemente.

“A Lavoro está, sim, buscando novos investidores, mas não é algo para resolver um problema de curto prazo. É claro que a entrada de recursos vai melhorar a estrutura de capital e reduzir o custo financeiro, mas isso é um efeito colateral. O objetivo é aração de recursos para financiamento de crescimento”, disse.

No balanço divulgado ontem à noite, a Lavoro registrou um índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado) de 4,2 vezes no resultado consolidado No negócio de distribuição no Brasil, que foi alvo de boatos infundados recentemente,  a alavancagem ficou em 1,7 vez, cumprindo as cláusulas restritivas do CRA, como The AgriBiz havia antecipado.

As dúvida sobre a alavancagem, aliás, ocorrem em parte por uma interpretação errônea de uma ferramenta de inteligência artificial e também porque não se atentou para os termos da cláusulas restritivas do CRA, gerando burburinho.

Efetivamente, o Ebitda usado para a métrica de alavancagem é ajustado por diversos itens, como gastos com M&As (R$ 21 milhões), uma despesa extraordinária relacionada aos bônus de funcionários (R$ 18 milhões) e consultorias que o Pátria presta à Lavoro (R$ 17,5 milhões).

Juntos, esses três itens agregam R$ 56,5 milhões ao Ebitda ajustado da safra 2023/24, mais de 20% do resultado. Ao todo, o Ebitda ajustado da Lavoro foi de R$ 263,2 milhões. Sem os ajustes, o Ebtida seria de R$ 190,4 milhões.