Soja Futura Agro

O plantio da nova safra de verão ainda está em andamento, mas uma parcela importante do agronegócio já tem ao menos parte da atenção para a próxima temporada, que só será plantada em setembro do ano que vem.

Entre os integrantes desse grupo estão grandes produtores fechando as primeiras aquisições de insumos; empresas de fertilizantes, sementes e defensivos que buscam se posicionar no mercado; e qualquer um que precisa antecipar o futuro para planejar.

Neste momento, o retrato da safra de grãos que virá depois da que está sendo plantada não é dos piores.

Considerando as condições atuais como ponto de partida, projeta-se a continuidade da expansão moderada na área de soja e milho. As margens dos produtores podem se manter relativamente estáveis em relação à temporada atual — nem tão altas quanto as de 2023, nem tão baixas quanto beiraram no início de 2024.

Essas estimativas consideram uma taxa de câmbio em ligeira elevação, juros em gradativa queda e um crescimento econômico moderado para a economia brasileira. Do ponto de vista dos fundamentos, a soja e o milho brasileiros devem se manter competitivos no exterior, enquanto a demanda de milho para etanol e de soja para biodiesel continua sustentando o consumo doméstico.

Parte dessa percepção relativamente positiva para 2026 é reforçada pela comercialização antecipada de fertilizantes, que começou mais aquecida do que nos últimos anos em setembro, segundo os nossos levantamentos.

Motivos para ficar em alerta

Existem, no entanto, razões para se manter em alerta: há praticamente um ano separando o plantio dessa nova safra de que estamos falando — e até lá ainda precisamos terminar de plantar e colher a safra atual de verão, a safrinha, e ver o que acontece com a safra americana de grãos.

Há riscos e incertezas no caminho.

É preciso levar em consideração que, nos últimos dois anos, quatro fatores amenizaram fortes pressões negativas sobre os preços dos grãos e as margens dos produtores brasileiros:

  • O câmbio favorável que sustentou os preços domésticos em 2024.
  • As altas produtividades deste ano, que ajudaram a sustentar a rentabilidade no campo.
  • Os prêmios elevados da soja, impulsionados pela guerra comercial que acentuou o papel do Brasil como fornecedor preferencial de soja para o mercado chinês.
  • A demanda aquecida da indústria de biocombustíveis (tanto o milho para etanol como a soja para biodiesel), que também deu suporte ao mercado interno.

Desses quatro fatores, apenas o último permanece assegurado no ano que vem. Não dá para dizer o mesmo sobre os demais.

O câmbio pode entrar em forte volatilidade em um ano eleitoral no Brasil – mas é preciso considerar que, no mercado global, o dólar está perdendo força.

Os prêmios de exportação tendem a recuar após o acordo que está fazendo a China retomar as compras de soja dos Estados Unidos, ainda que em volumes limitados.

A produtividade das lavouras é sempre uma variável incerta.

Para esta safra que está sendo plantada agora, os modelos climáticos são favoráveis, mas a perspectiva de uma La Niña, ainda que enfraquecida e curta, traz preocupação para o Sul. E anos de La Niña são associados à maior volatilidade dos preços dos grãos.

O retrato do ano que vem

Um ponto a considerar é que o agronegócio brasileiro poderá ser, por assim dizer, vítima do seu próprio sucesso. Se as condições dos próximos meses confirmarem o alto potencial produtivo da safra atual de soja e da safrinha de milho, a grande oferta aumentará a pressão negativa sobre os preços ao longo de 2026.

Nesse caso, o cenário ficará dependente de fatores externos, como a taxa de câmbio e a evolução da guerra comercial, sobre os quais no momento não há segurança de que terão influência positiva, como nos últimos dois anos.

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Marcos Rubin, colunista de The AgriBiz, é fundador da Veeries, empresa de inteligência do agronegócio especializada em gerar valor a partir de dados.