Sementeira

Na sola da bota, Boa Safra renova recorde com carteira de R$ 1,6 bi

“Historicamente, a gente fatura mais do que a carteira de pedidos”, explicou Marino Colpo, CEO da Boa Safra

Soja colheita

A Boa Safra está gastando a sola da botina. Depois de um período de maior cautela com as vendas — fruto das dificuldades das grandes revendas — a sementeira dos irmãos Colpo lotou a agenda com visitas a lojas pequenas e médias. Bater perna, por enquanto, compensou: a empresa fez a carteira de pedidos mais robusta de sua história.

A companhia registrou R$ 1,6 bilhão em pedidos ligados à semente de soja no segundo trimestre, um crescimento de 43% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Ainda temos novas vendas sendo feitas, não vendemos toda a nossa capacidade produtiva. Historicamente, a gente fatura mais do que a carteira de pedidos”, explicou Marino Colpo, CEO da Boa Safra.

De olho em aumentar gradativamente esse número, a companhia tem feito um massivo investimento comercial e, não à tia, atraído a ira dos concorrentes. Só no ano passado, agregou 697 novas lojas como clientes e, neste ano, tem uma meta de fazer 1.000 visitas a novos pontos de venda por mês.

“As revendas menores são frequentemente mais organizadas. Nossa decisão de pulverizar a carteira não piora a qualidade de crédito. Quem não cresceu muito tem processo, vende para os mesmos clientes, de alguma forma melhorou muito nossa carteira de pedidos”, explicou Felipe Marques, CFO da Boa Safra.

A meta é ter todas as revendas do Brasil mapeadas. Colpo evita dar mais detalhes sobre as regiões mais promissoras, mas destaca que a empresa tem crescido inclusive na região Sul, em que a Boa Safra estava presente em 40 lojas no ano passado e, neste ano, deve mais do que dobrar esse total.

No Paraná, a empresa tinha no ano passado um market share de 0,9%, percentual que era de 0,5% em Santa Catarina e de 0,3% no Rio Grande do Sul — o que leva a crer em um crescimento mais rápido nessas regiões.

“Dobrar o market share em regiões como Minas Gerais ou Goiás, em que temos mais de 20% do mercado, é um trabalho de dez a quinze anos”, explicou Colpo.

As dores do crescimento

No esforço para atender ao aumento de demanda, a companhia chegou, neste trimestre, ao limite da capacidade instalada de 280 mil big bags — uma expansão concluída em 2024 mas que ainda não havia sido aproveitada completamente.

No mesmo período do ano passado, por exemplo, a empresa fabricou 205 mil big bags de soja.

“Acabamos crescendo dois anos em um. É um desafio crescer nesse patamar, perto de 40% em um ano. A energia da empresa ainda está em entregar esse aumento de volume, tem alguma água para passar debaixo dessa ponte”, destacou Marques.

Com o aumento da produção — e o investimento em equipes comerciais — a sementeira viu algum impacto em margem no segundo trimestre. A receita aumentou 43%, para R$ 125,1 milhões, mas o Ebitda teve um incremento de 10%, para R$ 19 milhões, com queda de 4 pontos percentuais em margem.

“A gente tem buscado eficiência, mas teve um aumento das despesas, de combustível, custo dos colaboradores, custo de visita. Mesmo em um cenário dos preços mais baixos dos últimos cinco anos, temos crescido. Imagina no bull market”, disse Colpo.

Nessa dinâmica de crescimento, a companhia também consumiu mais caixa. No segundo trimestre deste ano, o gasto foi de R$ 141,2 milhões, ante R$ 63,9 milhões no mesmo período do ano passado.

Também como um reflexo do crescimento, a provisão para devedores duvidosos aumentou, saindo de R$ 784 mil para R$ 14,5 milhões.

“Temos uma política de PDD bem rigorosa. A gente acaba sendo muito mais conservador e coloca volume maior do que de fato é. À medida que mostra a recuperabilidade, isso aparece nos trimestres seguintes. Mas, mesmo considerando esse valor, a gente tem a menor inadimplência do setor”, destacou Marques.

O CFO acrescentou, ainda, que há uma expectativa de fechar o ano com uma inadimplência percentualmente baixa, em linha do que tem acontecido com outras empresas. “Bom mesmo é zero, mas enfim, a gente tem a expectativa de diminuir isso”, diz.