
Produtores e indústrias ligados à laranja no Brasil estão em sobressalto desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), que representa Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus, a nova taxa inviabilizaria o setor.
O Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja no mundo, vendendo 95% de sua produção para o exterior. Desse total, 41,7% foram vendidos para os Estados Unidos em 2024. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, as exportações de suco de laranja para os EUA passaram de US$ 1,31 bilhão.
O diretor-executivo da Citrus BR, Ibiapaba Netto, lembra que o imposto já tinha subido de um valor nominal de US$ 415 por tonelada para US$ 780 por tonelada em abril, quando foi anunciada a taxa de 10% sobre todas as importações dos EUA.
Nas contas da entidade à época, a medida poderia adicionar US$ 100 milhões por ano em taxas para as empresas brasileiras.
Agora, com a nova sobretaxa de 50%, e considerando a cotação na bolsa de Nova York, de US$ 3,6 mil a tonelada de suco concentrado, ele estima que o imposto deva subir para US$ 2.515 por tonelada, o equivalente a 72% do valor final do produto.
Na prática, isso pode gerar “graves prejuízos para toda a cadeia” e inviabilizar o setor.
“Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto. E a medida também afeta empresas americanas que têm no Brasil o seu principal fornecedor de suco de laranja”, lamentou a CitrusBR, em nota.
Nesse caso, além da esperada alta nos preços ao consumidor, pesa a tendência de queda na demanda, com o consumo global caindo cerca de 3% ao ano, reflexo dos consumidores se afastando por causa do preço alto — e deve subir mais — e preocupados com o teor de açúcar no produto, buscando alternativas mais saudáveis.
Ao contrário de outras commodities, como o café e carne bovina, não existe um crescimento de consumo em novos mercados que possa compensar o peso de uma eventual retração nas compras por parte dos EUA.
A União Europeia é o principal mercado do suco brasileiro, com 52% de participação nas exportações da safra 2024/25, o equivalente a US$ 1,7 bilhão. Mas é pouco provável que seja capaz de absorver os excedentes do mercado americano sem perdas em todo o setor.