Nova safra

A demanda já era precária. Com mais laranja no Brasil, preço do suco desaba

Estimativa do Fundecitrus para a safra de laranja superou todas as expectativas, derrubando as cotações da commodity na bolsa de Nova York

A recuperação da produção brasileira de laranja já estava nas contas dos analistas e fundos especulativos que operam no mercado futuro de suco de laranja. Mesmo assim, a divulgação da estimativa do Fundecitrus superou todas as expectativas, derrubando as cotações da commodity na bolsa de Nova York.

Nesta sexta-feira, os contratos de suco de laranja congelado e concentrado (FCOJ, na em inglês) caíram mais 6% na bolsa de Nova York. A intensa desvalorização ocorreu mesmo depois de uma correção expressiva. Desde setembro, quando o suco atingiu o pico, as cotações já haviam recuado 55%.

Na estimativa divulgada nesta sexta-feira pelo Fundecitrus com a Unesp Jaboticabal, a próxima safra de laranja foi estimada em 314,6 milhões de caixas, podendo oscilar em um intervalo entre 306 milhões e 322 milhões.

A projeção veio mais de 10% acima da expectativa do Rabobank, que estimava algo entre 260 milhões e 300 milhões de caixas.

Em um relatório divulgado em março, o Rabobank já sinalizava que “uma surpresa positiva (próxima de 300 milhões de caixas) poderia trazer pressão negativa nas cotações”, o que está se concretizando hoje — a despeito de projeções ruins em outros países produtores, como os Estados Unidos, que estimam uma safra 36% menor neste ano.

Considerando os números do Fundecitrus, colheita de laranja no polo citrícola brasileiro representará um aumento de 36,2% na comparação com 2024/25, que foi a segunda pior safra nos últimos 30 anos, e uma alta de 4,8% frente à média dos últimos dez anos.

Segundo Antônio Juliano Ayres, diretor-executivo do Fundecitrus, a boa perspectiva é atribuída ao maior número de frutos por árvore, resultado do clima e do melhor manejo dos pomares, e ao aumento da quantidade de árvores produtivas.

“Estamos voltando aos patamares positivos. Não é uma supersafra, mas é uma boa safra”, afirmou Ayres em um evento para a divulgação dos números.

Cadê a demanda?

A oferta mais ampla vai jogar luz (mais uma vez) para o desafio crônico para a indústria de suco de laranja.  O consumo global tem caído 3% ao ano, em média, com os consumidores se afastando por causa dos preços altos e preocupados com o teor de açúcar no produto, buscando alternativas mais saudáveis.

Com isso, a expectativa é de mais volatilidade no curto prazo, ainda mais no contexto da guerra tarifária entre EUA e China.

“O grande risco é de uma amplificação do embate entre as potências, o que levaria o mundo a crescer menos ou a entrar em recessão. Se isso acontecer, pode haver um cenário muito ruim de queda no consumo em paralelo com destruição de preço”, avaliou Cesar de Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.

Segundo ele, a política tarifária dos EUA tornou nebuloso o futuro das exportações brasileiras. Em tese, a venda para os americanos deveria seguir inalterada, dada a alta demanda da indústria local e a perspectiva ruim da produção americana.

“Mas tudo depende de como esse assunto vai reverberar para nós. Se tivermos uma safra desse tamanho, sem os EUA com o vigor habitual de compra, aí complica para o Brasil.”

Nesse cenário adverso, a alternativa é buscar outros mercados. “A Ásia é um possível candidato a ser um destino mais relevante, mas não é uma mudança trivial”, ponderou Alves.