
Sem surpresas — e com impacto limitado para o Brasil. Assim foi recebido o acordo anunciado nesta quinta-feira entre Estados Unidos e China no mercado de soja.
Pelos números antecipados pelo secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, o acordo deve trazer as exportações de soja norte-americanas para perto dos níveis registrados antes da guerra comercial de 2025.
Após o encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da China, Xi Jinping, Bessent disse que a China concordou em comprar 12 milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos até janeiro de 2026. Para os próximos três anos, o acordo prevê a compra de pelo menos 25 milhões de toneladas por ano, praticamente em linha com a média dos últimos cinco anos.
Já as 12 milhões de toneladas, que devem ser compradas ainda em 2025 para embarque até fevereiro, correspondem exatamente às necessidades das esmagadoras chinesas até a entrada da nova safra brasileira, segundo analistas que acompanham o mercado.
“O acordo comercial foi apresentado como uma grande vitória para os produtores de soja norte-americanos. No entanto, vejo que o impacto prático será limitado, representando, no máximo, um retorno aos níveis de comércio anteriores à guerra comercial de 2025, e não um avanço significativo”, afirmou o economista Carlos Cogo.
“É um ‘retorno à normalidade’”, resumiu Daniele Siqueira, analista da AgRural. “O acordo serviu muito mais para fazer barulho para os algoritmos do que trazer alguma substância ao mercado”, disparou Pedro Dejeneka, sócio da MB Commodities, em Chicago.
Para os analistas, o comércio entre Estados Unidos e China retorna agora ao status quo. Nos últimos meses do ano, a China vai cumprir o seu compromisso de comprar os volumes mínimos dos americanos. Mas, a partir de janeiro, quando entra a safra nova da América do Sul, ela voltará a priorizar a soja mais competitiva do Brasil.
Cogo observa que o acordo não muda a estratégia chinesa de longo prazo de reduzir a sua dependência dos EUA. “O Brasil pode até perder uma fatia do que ganhou de mercado da China em 2025, mas a base de 65% a 70% de embarques totais de soja em grãos destinados à China não deverá ser alterada”, disse.
Pressão de curto prazo
A repercussão do acordo foi positiva na Bolsa de Chicago. O contrato com vencimento em janeiro de 2026 fechou em alta de 1,15%, a US$ 11,07 o bushel. Em um mês, a commodity subiu cerca de 10%.
Apesar da alta recente, a expectativa é de mais valorizações à medida que apareçam notícias de compras chinesas nos Estados Unidos. “Em dias em que houver volumes significativos de vendas para a China, vai dar impulso a Chicago”, afirma Siqueira.
Nos últimos dias, a oleaginosa já vinha apresentando valorização relevante em Chicago em meio à expectativa de um acordo comercial e à informação de que a Cofco teria comprado de dois a três navios de soja dos EUA, conforme noticiaram as agências internacionais.
No Brasil, os prêmios nos portos caíram e voltaram a ficar negativos, depois de um ano inteiro em território positivo puxado pela forte demanda chinesa. O prêmio para a soja com entrega em março de 2026, por exemplo, ficou negativo em US$ 0,20 por bushel nesta quinta-feira, ante US$ 0,22 positivos na sexta-feira da semana passada.
“Se todos esses volumes anunciados pelo governo dos EUA fossem confirmados, isso pode dar sustentação aos futuros em Chicago, reduzir as compras chinesas no Brasil e pressionar negativamente os prêmios nos portos brasileiros no curto prazo e para embarques no primeiro semestre de 2026. Entretanto, a partir de janeiro, a China deverá voltar a se abastecer no Brasil”, avalia Cogo.
No balanço entre Chicago em alta e prêmios em baixa, o saldo para os preços no Brasil foi praticamente nulo nos últimos dias, segundo cálculos da analista da AgRural.
Considerando os valores de Chicago e os prêmios para a soja com entrega em março, o bushel nos portos brasileiros estava em torno de US$ 10,977 nesta quinta-feira. O valor é muito próximo ao praticado na sexta-feira da semana passada, de US$ 10,955 o bushel.
A partir de agora, os prêmios nos portos brasileiros devem responder mais ao comportamento da oferta do que da demanda, segundo analistas. “Se o Brasil tiver uma supersafra, os prêmios vão ficar mais pressionados”, afirma Luis Fernando Roque, analista da HedgePoint Global Markets.
Para Daniele Siqueira, o maior risco para os preços aos produtores brasileiros, daqui para frente, é um velho conhecido. “É o descolamento de ritmo entre o nosso aumento de produção e a demanda chinesa, que não é mais a mesma há muito tempo”, diz.
 
					 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		 
			
		