Private equity

35% ao ano, o retorno do Pátria no agro

“Enquanto a Faria Lima só acordou para o agro na pandemia, estamos fazendo isso com sucesso há quase 15 anos”, diz Daniel Fisberg

“Enquanto a Faria Lima só acordou para o agro na pandemia, estamos fazendo isso com sucesso há quase 15 anos”. A frase é de Daniel Fisberg, managing director do Pátria Investimentos.

Protagonista em algumas das principais cadeias produtivas do agro brasileiro, a gestora de private equity se vê como uma agente de transformação no setor, trazendo governança a mercados que operavam de maneira muito fragmentada (e com gestão familiar).

“Nosso modelo passa, normalmente, por fazer aquisições seriais e criar uma empresa”, disse Fisberg em entrevista ao The Agribiz. O exemplo mais evidente é a Lavoro, companhia que já fez mais de 20 aquisições e se consolidou como a maior rede de revendas de insumos agrícolas do país.

Para Fisberg, a consolidação nos diversos elos do agronegócio é um movimento inescapável. “Você vê as grandes tradings, as químicas — Monsanto e Bayer e os chineses comprando a Syngenta — e também os produtores rurais, sempre buscando a terra do vizinho”, elencou o executivo.

“Escolhemos mercados enormes, com crescimento e resilientes. O agro é um deles”, afirma Daniel Fisberg, do Pátria | Crédito: Shutterstock

A recente união entre Bunge e Viterra só reforçou a tese do Pátria. “É uma clara aceleração do movimento de consolidação que começou há 10-15 anos, com players em toda a cadeia de valor (insumos agrícolas, varejo, logística, agropecuária, trading, etc) buscando escala e posições competitivas mais fortes. São tempos excitantes para estar nesta indústria”, escreveu Fisberg em seu perfil no LinkedIn logo que o M&A que criou uma gigante de US$ 120 bilhões foi anunciado.

No Pátria há seis anos, Fisberg conhece bastante o universo das tradings e as dinâmicas do agronegócio. Antes de chegar à firma de private equity, foi head de M&A da Archer Daniels Midland (ADM) na América do Sul.

Efeito Agrichem

No Brasil, o Pátria investe em empresas do agro desde 2011. A primeira aposta foi a Agrichem, companhia de fertilizantes foliares vendida à canadense Nutrien em 2019. “Tivemos experiências bem promissoras”, disse ao The Agribiz.

A entrada na Agrichem deu ao Pátria um olhar mais profundo sobre o mercado de distribuição de insumos agrícolas, o que foi fundamental na construção da tese de investimentos que culminou na criação da Lavoro. “Como a Agrichem era uma fornecedora das revendas, começamos a conhecer melhor os canais”, lembrou Fisberg.

Com a captação de fundos de private equity maiores ao longo dos anos, o Pátria também pode alocar mais capital em empresas do agro. “Começamos a estudar a tese da Lavoro em 2016 e aceleramos nossa alocação no setor a partir de 2017”, emendou o managing director.

Ao consolidar o varejo de insumos agrícolas com a Lavoro, o Pátria notou que existia um espaço ainda maior na pecuária, o que motivou a criação da Axia Agro, uma companhia para consolidar as distribuidoras de produtos voltados a pecuaristas (produtos como medicamentos veterinários, entre outros).

Axia Agro, a tese de pecuária

“Na pecuária, o número de canais é ainda maior e é um mercado muito mais fragmentado”, diz Fisberg. Para Marcos Haaland, operating partner de agronegócios do Pátria, o estágio menos avançado de adoção de tecnologia na pecuária mostra que a avenida de crescimento pode ser ainda maior. “Ainda temos uma pecuária extensiva grande, com nível de tecnologia baixo”.

Não à toa, outros players estão investindo em teses semelhantes. O Aqua Capital, que controla a Agrogalaxy na distribuição de insumos agrícolas, também investe no varejo de insumos para a pecuária por meio da VetBR. A Kinea também entrou no jogo, investindo R$ 400 milhões na Alvorada.

Na Axia, os investimentos começaram no ano passado, com Lineagro e Casa da Lavoura. Os aportes são feitos pelo sexto fundo de private equity do Pátria. A considerar a estratégia usual da firma, há muito M&A pela frente.

Sétimo fundo

O Pátria também está em fase de captação de seu sétimo fundo, que também deve separar parte dos recursos para investir em teses de agro, o que pode ser explicado pelo retorno que o setor gerou para a firma.

Ao consolidar todos os ativos de agro que já fez — trata-se de uma carteira hipotética, uma vez que os investimentos estão espalhados por fundos diferentes da gestora —o Pátria calcula que seu retorno no setor seria de 35,4% ao ano, enquanto o Ibovespa rendeu 4% ao ano no mesmo intervalo (2011 a 2022).

“Escolhemos mercados enormes, com crescimento e resilientes. O agro é um deles. Em momentos de crise, o agro ajuda [o país] a sair dela”, resumiu Fisberg. Além de agro, os fundos de private equity da casa investem principalmente nos setores de saúde e alimentos e bebidas.

Com US$ 27,3 bilhões (cerca de R$ 130 bilhões) sob gestão, o Pátria possui ainda verticais de investimentos em infraestrutura, crédito, venture capital e fundos imobiliários. A entrada em Fiagro vem sendo estudada pela firma.