AGRO 360º

No venture capital, o agro é parte da solução climática

SP Ventures, Arar Capital e 10b priorizam investimentos em empresas de biológicos em meio ao cenário mais duro de captações 

Paulo Ciampolini, da Arar Capital; Ariadne Caballero, da SP Ventures; e Marcelo Lima, da 10b, durante painel no AGRO360º

Atrair investidores para capital de risco já é um baita desafio em meio ao patamar atual dos juros. Convencê-los a colocar dinheiro em teses do agronegócio, então, é um desafio dobrado. No caminho para superá-lo, firmas de investimento (private equity ou venture capital) têm encontrado uma via em teses que fazem a intersecção entre o agro produtivo e soluções ligadas ao clima. 

Uma das prioridades dentro desse tema têm sido os biológicos. “Da mesma maneira que a Mariangela Hungria coloca, já foi o momento de químicos, químicos, químicos. Esse é um momento de biológicos, biológicos, biológicos”, parafraseou Ariadne Caballero, sócia da SP Ventures, em painel no AGRO 360º, evento promovido por Brazil Journal e The AgriBiz nesta semana, em São Paulo. Hungria é pesquisadora da Embrapa e foi a primeira brasileira a ser premiada com o Nobel de Agricultura por seu trabalho com insumos biológicos.

É uma tese especialmente valiosa na América Latina, região em que 50% dos produtores usam esse tipo de produto, ante apenas 10% nos Estados Unidos. No Brasil, a firma de venture capital investe, dentro dessa tese, na Gênica, uma das principais startups do setor, avaliada em US$ 100 milhões na rodada mais recente.

Mesmo para cheques maiores, o raciocínio segue o mesmo. Marcelo Lima, fundador e CEO da 10b, disse que o principal investimento da casa é a Agrivalle, companhia que também atua no segmento de biológicos — um tipo de tese no qual a companhia gosta de focar. 

“Quando investimos, em 2020, a penetração de biológicos em relação a químicos era de aproximadamente 1%. Hoje é 6%, 7%. As projeções mais conservadoras indicam que ao longo do tempo esse percentual pode chegar a 20% e, no limite, até 50%. Tem muito crescimento pela frente, de forma muito sustentável”, afirmou Lima.

Apesar do amplo espaço de crescimento pela frente, não se trata de uma tese simples. Entre os desafios, estão o alto capital de giro para financiar o prazo safra, bem como dificuldades de distribuição — seja por meio de revendas ou com uma força de trabalho própria. Isso tudo ao mesmo tempo em que é necessário administrar fábricas, garantindo um produto eficaz e competitivo.

“É um belíssimo exemplo para mostrar como a banda toca no agro. Ao mesmo tempo que o produtor está cansado de coisas que não funcionam e são caras, uma vez que você encaixa essas variáveis todas, o negócio tende a andar. A gente acompanha esse setor muito de perto, inclusive para alocar mais capital em boas oportunidades”, destacou Paulo Ciampolini, sócio-fundador da Arar Capital.

Foco em tecnologia

As boas teses — ou as mais promissoras — daqui para frente, estão ligadas principalmente a diferenciais tecnológicos. No cenário de juros baixos, o setor passou por um hype que abriu oportunidades variadas e, em alguns casos, trouxe produtos que não necessariamente tinham a melhor qualidade. Por isso, o foco em tecnologia daqui para frente segue como um imperativo para todas as firmas. 

“Podemos citar cinco, seis players, dos quais dois deles estão com investidores aqui. São empresas que de fato têm investimento relevante em P&D, em acesso. Estão desenvolvendo o mercado e têm capacidade produtiva com qualidade”, ressaltou Lima.

Pescando nesse aquário pequeno, a diferenciação fica a cargo de empresas que tenham uma forte visão de comercialização de produtos e, principalmente, de inovação. A possibilidade de ter vários microrganismos em um mesmo produto, por exemplo, é um ponto de destaque. 

“Investimos há dois anos em uma empesa que é um laboratório de P&D de insumos e biológicos de segunda e terceira geração. Estamos muito animados com isso porque é um negócio bastante pioneiro para o mercado brasileiro. Fazer P&D terceirizado é difícil, mas acreditamos que as empresas, nesse ambiente, vão procurar cada vez mais por esse tipo de solução”, ressaltou Ciampolini.

Teses capazes de financiar o crescimento dessas — e de outras — empresas do agronegócio também seguem com papel de destaque. Para Caballero, aportes em fintechs, como foi o caso com a Agrolend (hoje um banco) e a Vercor, no México, também devem continuar a ter um papel de protagonismo.

“O acesso ao capital é uma questão relevante em toda a América Latina e é muito interessante ver o Brasil virar praticamente um playbook necessário de ser levado para outros países da região”, destacou a sócia da SP Ventures.