
Mais uma vez, a carne de frango garantiu bons resultados para a Tyson Foods, que continua patinando no mercado de carne bovina, seu principal negócio, devido à severa restrição de oferta de gado nos Estados Unidos. Mas a forte queda das ações da companhia nesta manhã expõe uma preocupação em relação ao virtuoso ciclo do frango: até quando ele vai durar?
Os números, até aqui, são bons. No trimestre encerrado em 29 de março, o lucro operacional ajustado da Tyson cresceu 27% em relação ao mesmo período do ano passado, para US$ 515 milhões. O lucro por ação subiu 48%, para US$ 0,92, e superou as estimativas.
“Foi o quarto trimestre consecutivo de melhoras”, comemorou o CEO da Tyson, Donnie King, referindo-se aos números do topo e no final do balanço. A receita ficou praticamente estável em relação ao mesmo trimestre de 2024, em torno de US$ 13 bilhões.
Na operação de frango, o lucro operacional quase dobrou na comparação anual, atingindo US$ 312 milhões, beneficiado por custos mais baixos dos grãos usados na alimentação animal e por uma forte demanda. Com isso, a margem avançou de 3,9% para 7,5%. Nas contas da Tyson, foi a segunda melhor performance para o período em nove anos.
As ações da gigante americana, no entanto, caíam 9% nesta segunda-feira, com dúvidas crescentes no mercado sobre por quanto tempo as margens de frango seguirão em níveis recorde — e continuarão compensando os resultados ruins na carne bovina.
Com o preço do milho reagindo em relação às mínimas do ano passado e sinais de aumento na produção de aves nos Estados Unidos, as margens podem ter chegado a um pico. Além disso, a política tarifária de Donald Trump pode afetar as exportações da proteína norte-americana, aumentando a oferta no mercado interno e potencialmente diminuindo preços.
No primeiro trimestre, os alojamentos de pintinhos cresceram 1,4% nos Estados Unidos, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) apresentados pela concorrente Pilgrim’s Pride em seu call de resultados na última quinta-feira (1).
A empresa, que é controlada pela brasileira JBS, também foi beneficiada pelo ciclo positivo do frango no primeiro trimestre — mas também foi castigada pelo mercado.
No segundo trimestre, o Ebitda ajustado da Pilgrim’s saltou 43%, para US$ 533 milhões, com a margem Ebitda passando de 8,5% para 12%. Mas os números frustraram os analistas, que esperavam margens maiores em um trimestre marcado por uma deterioração da gripe aviária nos Estados Unidos, cenário que elevou os preços do frango em 10% em relação ao quarto trimestre de 2024 — como lembrou o analista do BTG Pactual, Thiago Duarte, em relatório. Mas a margem Ebitda da Pilgrim’s, na mesma comparação, ficou estável.
O mercado não poupou: as ações da Pilgrim’s caíram 14% na Bolsa de Nova York na quinta, dia em que o balanço foi divulgado. Na sexta-feira, os papéis seguiram em queda.
Bovinos e suínos
No balanço divulgado nesta segunda-feira, a Tyson também apresentou melhora nos resultados do negócio de alimentos preparados, com um lucro operacional de US$ 244 milhões e margem de 10,2%.
A empresa também ressaltou melhoras operacionais no resultado do negócio de carne suína, com a margem ajustada subindo de 2,2% para 3,7%.
Com um prejuízo de US$ 149 milhões, bem acima da perda de US$ 34 milhões um ano antes, a divisão de carne bovina amargou o sexto trimestre consecutivo de resultado negativo. A margem ficou negativa em 2,8%.