
Ainda vai piorar antes de melhorar. Esse foi o recado de Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, em agosto, quando a executiva previu mais dois trimestres de stress financeiro para a carteira de agronegócio. No balanco do terceiro trimestre, divulgado há pouco, a expectativa (ruim) se confirmou.
Na carteira de agronegócio, os atrasos superiores a 90 dias passaram de 3,49%, em junho, para 5,34%.
Destrinchando esse atraso por linhas de crédito, o banco mostrou que a inadimplência over 90 do custeio agropecuário dobrou, passando de 3,3% da carteira em junho para 6,3% em setembro.
O custeio é a maior linha individual da carteira de crédito agro, somando R$ 129 bilhões (de um total de R$ 361 bilhões).
Nas demais linhas, também houve aumento, embora menos dramático. No Pronamp, os atrasos over 90 passaram de 2,8% para 4,4%, no Pronaf ficou praticamente estável (de 1,5% para 1,8%) e no Finame passou de 1% para 1,9%.
O Banco do Brasil tem 48,7% de participação nos financiamentos destinados ao agronegócio. No crédito direto ao produtor rural (participação de mercado no agro pessoa física) a participação de mercado é de 55,7%.
Por isso, os atrasos do crédito agro não impactam só a carteira de agro propriamente dita, mas também têm reflexos na própria carteira de pessoa física do banco. Nesse sentido, os atrasos over 90 de pessoas físicas somaram 6% da carteira, ante 5,59% em junho.
O aumento veio, segundo o banco, principalmente por causa dos desafios do agronegócio na carteira de pessoas físicas. Sem a inadimplência do produtor rural, o indicador de atrasos acima de 90 dias para PFs seria de 5,33%.
O estrago das recuperações judiciais também marcou seu espaço no balanço — especialmente dentro do agro.
No acumulado até setembro, o banco tem 928 clientes em recuperação judicial, um aumento de 15% em relação a junho. O saldo total de clientes em recuperação judicial soma R$ 6,6 bilhões, ante R$ 5,4 bilhões no meio do ano.
A carteira agro do BB, em setembro, soma R$ 398 bilhões, montante 1,5% menor do que o do meio do ano, refletindo a postura mais dura da instituição financeira em relação à concessão de crédito.
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Junto com os resultados do período, o banco revisou para baixo o guidance de lucro para o ano. Antes, o banco estimava um intervalo entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões e, agora, estima entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões. No acumulado dos nove meses, fez R$ 14,9 bilhões.