
A Nestlé viu seu lucro líquido cair mais de 10% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado veio no embalo de uma queda de 1,8% no faturamento global e de um péssimo desempenho na linha de vitaminas — a ponto de a gigante suíça de alimentos anunciar que estuda vender algumas marcas no ano que vem.
Mas o tombo poderia ter sido ainda maior não fossem as divisões de confeitaria e de café, cujos desempenhos no período contribuíram para um crescimento orgânico geral de 2,9% na comparação com o primeiro semestre de 2024.
As categorias foram as que mais contribuíram positivamente para o resultado, puxadas por ajustes de preços ao consumidor de 10,6% e de 6%, respectivamente. Os resultados foram divulgados pela gigante suíça na quinta-feira (24).
No café, os principais vetores de crescimento foram a Nespresso e as linhas de cafés gelados, que vêm caindo no gosto dos consumidores em todo o mundo, puxado pelos Estados Unidos.
“O segmento de bebidas (incluindo café e cremes para café) apresentou crescimento amplo, com preços fortes e crescimento real positivo. O Nescafé foi o impulsionador, refletindo sua proposta de valor, especialmente para consumidores mais exigentes”, informou a Nestlé.
De acordo com a empresa, a Nespresso também teve “crescimento sólido”, no embalo do aumento de preços e de um crescimento orgânico que a empresa associa a campanhas de marca, inovação e bom desempenho nas edições limitadas.
“Nosso foco nessas categorias está em efetuar um ‘pricing’ inteligente para endereçar os aumentos de custos de insumos e, ao mesmo tempo, manter a penetração no mercado consumidor a médio prazo”, comentou a empresa.
Reestruturação
Nas principais linhas do balanço, a receita caiu 1,8%, de 45,045 bilhões de francos suíços (US$ 56,5 bilhões) para 44,2 bilhões de francos suíços (US$ 55,5 bilhões), em linha com o esperado pelos analistas.
Segundo a Nestlé, o tropeço inclui “um impacto negativo de 4,7% vindo do câmbio, dada a significativa valorização do franco suíço no período”.
O lucro líquido diminuiu 10,3%, de 5,644 bilhões de francos suíços (US$ 7 bilhões) para 5,1 bilhões de francos suíços (US$ 6,4 bilhões). E o lucro por ação ajustado caiu 5,4%, de 2,40 para 2,27 francos suíços.
O crescimento orgânico, de 2,9%, foi composto de 2,7% decorrentes de ajustes de preços, mais um crescimento real (“real internal growth”, em inglês), principal métrica de volume comercializado, de humildes 0,2%, que a Nestlé creditou a um cenário de redução da demanda, sob efeito de ajustes de preços ligados a aumento de custos.
Parte relevante do resultado fraco se deveu ao segmento de vitaminas, minerais e suplementos, que gerou cerca de 1 bilhão de francos suíços (US$ 1,26 bilhão) em faturamento. O negócio é parte da divisão de Nutrição e Ciência da Saúde, que teve queda de 0,8% nas vendas, respondendo por 16% do faturamento global no primeiro semestre.
Em seu comunicado ao mercado, a Nestlé afirmou que iniciou uma “revisão estratégica de marcas com má performance”, incluindo Nature’s Bounty, Osteo Bi-Flex e Puritan’s Pride, “que pode resultar no desinvestimento dessas marcas”.
Segundo o CEO da companhia, Laurent Freixe, a potencial venda dessas marcas pode acontecer em 2026.
A Nestlé manteve seu guidance para 2025, projetando uma melhora no crescimento orgânico de vendas e uma margem de lucro operacional igual ou superior a 16% — já incluindo o impacto negativo da guerra tarifária e das taxas de câmbio.
O mercado deu sua mensagem: a ação da Nestlé fechou em queda de 4,64% nesta quinta-feira (24). Nos últimos 12 meses, o papel acumula queda de 16,53%.