Colheita de milho; área de segunda safra triplicou desde 2000 | Crédito: Schutterstock

A intensificação do uso do solo ganhou números em um novo levantamento do MapBiomas divulgado nesta quarta-feira. Imagens de satélite analisadas pelo instituto mostram que cerca de dois terços da área ocupada por lavouras temporárias, como a da soja, têm mais de uma colheita por ano.

A área de segunda safra, por exemplo, triplicou entre 2000 e 2024, atingindo 23,7 milhões de hectares no ano passado, o equivalente a 65% da área ocupada com soja na safra de verão. Em 2,5 milhões de hectares (ou 6% da área de soja), foram registrados três ciclos de produção.

O grande ator desse processo é o milho, que ocupou 14,7 milhões de hectares na segunda safra, segundo os dados do MapBiomas, uma rede formada por universidades, ONGs e empresas de tecnologia dedicada ao monitoramento das mudanças do uso do solo e seus impactos.

Além de impulsionar a renda do produtor, a segunda safra tem papel central na estratégia de aumento de produtividade sem expansão da fronteira agrícola, destacou o MapBiomas,

“A segunda safra é um trunfo da agricultura tropical na produção de grãos. Ela incrementa o retorno econômico ao produtor e colabora na conservação da vegetação nativa, pois permite aumentar a produção sem abrir novas áreas”, afirma Eliseu Weber, um dos coordenadores do tema de agricultura do MapBiomas.

Especificamente em relação ao milho, o plantio realizado logo após a colheita da soja aumenta o potencial de sequestro de carbono da atividade agrícola, já que o cereal aproveita os nutrientes deixados no solo pela cultura anterior. A palhada que fica no solo após a colheita, acrescenta o professor, ajuda na conservação do solo e para a fixação de carbono no solo por meio do plantio direto.

Em meio aos benefícios, o MapBiomas também destacou os desafios. O uso mais intensivo do solo exige melhores práticas de manejo para evitar a degradação, enquanto as mudanças climáticas podem comprometer a viabilidade de cultivos como o milho safrinha em determinadas regiões no futuro.

Melhora no pasto

O levantamento também indica uma melhora gradual nas condições das pastagens brasileiras. Um terço da área total — cerca de 54,8 milhões de hectares — apresenta alto vigor, enquanto outros 43% registram vigor médio. Essas duas condições, segundo o MapBiomas, contribuem para a criação de um maior número de animais por hectare.

Quase 22% das pastagens (33,4 milhões de hectares) foram classificadas como de baixo vigor, o que significa uma menor produção de forrageiras e alta presença de solo exposto ao longo do ano.

Ao longo das últimas duas décadas, as pastagens ganharam um saldo líquido de 6,2 milhões de hectares em vigor. Ou seja, em 20,8 milhões houve melhora das condições, enquanto 14,6 milhões registraram queda. No mesmo período, 11,1 milhões de hectares evoluíram especificamente para a categoria de alto vigor.

Apesar dos avanços, o MapBiomas destaca que os quase 22% de pastagens mapeadas como baixo vigor sugerem uma condição de degradação severa.

“Essa área, que corresponde a aproximadamente 34 milhões de hectares, representa uma enorme oportunidade para outros usos, em convergência com o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas implementado pelo governo federal”, afirma Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do tema no MapBiomas.