Em agosto, os analistas do BTG Pactual sinalizaram ao mercado que as ações da Suzano estavam baratas demais para ser ignoradas — desde então, parece que os investidores prestaram atenção. Os papéis da companhia da família Feffer subiram 12% no último mês, com uma alta de 2,5% só nesta terça-feira.
Tal impulso voltou a chamar a atenção de investidores: afinal, que fundamentos justificam a alta nesse curto espaço de tempo?
Volta a equipe do BTG para explicar. Em um comentário enviado a investidores nesta tarde, os analistas Leonardo Corrêa e Marcelo Arazi apontaram quatro fatores que ajudam a entender a escalada das últimas semanas. E cravam: há espaço de sobra para o movimento continuar.
Mesmo depois da alta, os papéis da Suzano ainda estão perto das mínimas históricas. Mas, para além disso, há uma conjuntura de fatores macro — e micro — que beneficiam a companhia neste momento.
Sob uma perspectiva macro, a depreciação do real beneficia a Suazano, que tem quase 100% da receita atrelada ao dólar e menos de 40% em custos na mesma moeda. “Tudo mais constante, uma depreciação de 10% no real faz com que o Ebitda da Suzano cresça 16% e acrescenta aproximadamente 20% ao seu equity value”, estimam os analistas.
Numa visão setorial, a percepção dos analistas é que os preços da celulose estão perto do piso, o que também pode trazer outro impulso às ações da Suzano.
Nas contas do BTG, o custo de produção para fibra curta está em torno de US$ 570 a US$ 600 por tonelada. Com os preços da fibra curta na China ao redor de US$ 561 e os preços de revenda a US$ 555 por tonelada, a sensação é a de que a parte mais dura do ciclo já ficou para trás — o que traz um ponto de entrada valioso para as ações ligadas a commodities.
A esse cenário, se soma o corte de 4% na produção anunciado pela Suzano recentemente, bem como o corte anunciado pela Bracell para o início de 2025 e a expectativa de estabilidade de preços para a fibra curta na China em novembro.
“Por mais que o mercado ainda permaneça com excesso de oferta, particularmente levando em consideração aumentos recentes de oferta doméstica na China, nossa sensação é a de que estamos chegando ao piso da celulose”, escreveram os analistas.
O momento atual da celulose, combinado com os receios com o mercado imobiliário na China e às preocupações com o setor de petróleo, também pode simbolizar uma mudança nas alocações de commodities por parte de fundos, se afastando mais de metais e de petróleo e avançando em direção à celulose, buscando mais estabilidade.
No caso da Suzano, essa busca ainda é turbinada pelo valuation altamente descontado da companhia. Hoje, a empresa é negociada a 5,3 vezes Ebitda, perto das mínimas históricas para o papel, ante a média dos pares de 7 a 8 vezes — os analistas avaliam um valor justo em torno de 7 vezes para a Suzano.
O preço atual ainda reflete as preocupações com alocação de recursos por parte da companhia e, em boa medida, as incertezas em relação ao Projeto Cerrado, que, nas contas dos analistas, pode acrescentar até 20% de equity value à companhia.
Atualmente, as ações precificam uma curva de celulose abaixo de US$ 530 por tonelada, um patamar visto como excessivamente conservador. “Mesmo que os preços fiquem em US$ 550 por tonelada, nós vemos a Suzano entregando um rendimento de fluxo de caixa livre de 8%, algo impressionante”, escrevem os analistas.