
Após 25 anos de difíceis negociações concluídas há um ano, a ideia era celebrar o acordo entre União Europeia e Mercosul amanhã, sábado (20), em cerimônia durante a cúpula do bloco sul-americano em Foz do Iguaçu.
Mas não vai ser dessa vez. Cedendo a pressões da França e da Itália, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou nesta quinta-feira aos líderes da União Europeia reunidos em Bruxelas que a assinatura do acordo foi adiada para janeiro.
A data-alvo agora é 12 de janeiro, no Paraguai, segundo relatos de integrantes da diplomacia europeia à agência AFP.
O acordo entre Mercosul e União Europeia criaria uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, com 722 milhões de consumidores e um PIB combinado de US$ 22 trilhões.
O acordo deve facilitar aos europeus exportar veículos, máquinas, vinhos e bebidas alcoólicas para Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em contrapartida, facilitaria a entrada na Europa de carne, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos.
Lula: Itália pediu mais tempo
Mas os agricultores europeus, principalmente na França, o maior produtor agrícola do bloco, se opõem ao acordo.
Quase 10 mil deles protestaram na quinta-feira em Bruxelas durante uma cúpula de chefes de Estado e de governo, em manifestação que incluiu confrontos com a polícia.
Na Itália também há resistências internas. O presidente Lula disse nesta sexta-feira que conversou com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e que ela pediu mais alguns dias para tentar “vencer resistências internas” ao acordo.
“Ela ponderou que não é contra o acordo. Apenas está vivendo um certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas tem certeza de que é capaz de convencê-los. E, então, ela pediu uma semana, dez dias, no máximo um mês, e a Itália estará junto”, afirmou o presidente durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto.
Segundo Lula, o acordo “vai dar uma resposta de sobrevida do multilateralismo àqueles que querem construir o unilateralismo”.
Mais tarde, em nota oficial, o governo italiano confirmou o teor da conversa de Lula com a primeira-ministra, mas não estipulou um prazo.
Além dos dois países, a Polônia e a Hungria também se opõem ao pacto.
O adiamento tem sido visto como um revés para a Comissão Europeia, a Alemanha e a Espanha, que pressionavam por uma assinatura.
Também nesta sexta, o porta-voz adjunto do governo alemão, Sebastian Hille, afirmou que a assinatura do acordo está garantida: “A questão já não é se o acordo será assinado, mas quando”.