
Cervi, Rocheto, Logemann e Maggi Scheffer. Os que esses sobrenomes guardam em comum? Além de serem grandes produtores de grãos, as quatro famílias protagonizaram as maiores transações de terras do ano.
Dando saída a investidores estrangeiros que precisavam retornar o capital para a matriz ou comprando fazendas de produtores endividados que precisavam equilibrar a estrutura de capital, as transações mostram que esses fazendeiros fizeram a lição de casa durante o boom da soja, deixando o balanço preparado para crescer durante a crise.
Ao longo das últimas semanas, a equipe de The AgriBiz compilou as principais transações de terras do ano, cruzando apurações da reportagem com comunicados feitos por fundos e companhias de capital aberto que venderam ou compraram terras neste ano — SLC, Klabin e BrasilAgro são alguns exemplos.
Os números são apenas um aperitivo do potencial do mercado de terras. Ao todo, o levantamento capturou R$ 9,6 bilhões em 19 transações, a maior parte delas ligadas à produção de grãos, e uma parcela menor ligadas à celulose e pecuária.
“Sem dúvida, isso é uma parte ínfima do que rolou”, disse Daniel Meireles, sócio-diretor da consultoria Acres, especializada no mercado de terras.
À exceção das transações envolvendo fundos listados e empresas com ações negociadas na B3, as transações de fazendas costumam ser feitas sem muito alarde, por privacidade. Além disso, é comum que algumas negociações de médio e pequeno porte sejam fechadas em contratos de gaveta.
Apesar dessas dificuldades, as principais transações acabam conhecidas, o que ajuda a trazer um retrato do momento do mercado brasileiro de terras.
As maiores transações
Como não poderia deixar de ser, a maior produtora de grãos do País liderou o volume de transações no ano, agregando mais de 100 mil hectares de área plantada (considerando primeira e segunda safra). Entre aquisições, arrendamentos e venda parcial para o fundo de pensão canadense PSP, a SLC fez R$ 2,3 bilhões em negócios envolvendo fazendas de grãos.
Isoladamente, a maior transação foi realizada pelo Grupo Bom Futuro, que pertence aos empresários Fernando, Elusmar e Eraí Maggi Scheffer, conforme The AgriBiz revelou em abril. Ao comprar duas fazendas da Proterra que somam mais de 40 mil hectares, o grupo mato-grossense desembolsou um montante estimado em R$ 1,8 bilhão.
Em área, no entanto, o maior deal individual foi protagonizado por Oscar Cervi. Em uma transação abaixo do radar, o megaprodutor desembolsou mais de R$ 1,4 bilhão para adquirir 100 mil hectares de terras em Santana do Araguaia, no Pará. As terras pertenciam à AgroSB, que faz parte do Opportunity, de Daniel Dantas.
Os irmãos Celso e José Paulo Rocheto, controladores da fabricante de batatas congeladas Bem Brasil e grandes produtores de grãos, também se destacaram. Em transações separadas, a dupla comprou cerca de 30 mil hectares.
Celso Rocheto comprou uma fazenda de 14 mil hectares em Querência, no Mato Grosso. O vendedor, um produtor rural que não teve o nome revelado, foi assessorado pela Acres. Pelo perfil da região, estima-se que a transação tenha saído por mais de R$ 800 milhões.
No caso de José Paulo Rocheto, foram 15 mil hectares nos municípios mineiros de Unaí e Buritis, duas áreas consideradas nobres e propícias para a produção de sementes de soja. Na transação, o empresário também ficou com a sementeira goiana Serra Bonita, que pertencia a um grupo de sócios composto por Amerra, irmãos Colpo, Marino Franz e Advanta.
Florestas e pecuária
Além dos grãos, as áreas florestais e de pecuária também movimentaram transações. A Klabin, por exemplo, monetizou R$ 900 milhões em duas transações de sale and leaseback. A Copa Investimentos, um fundo florestal, comprou uma área da Tanac por cerca de R$ 160 milhões no Rio Grande do Sul.
Na pecuária, a JBJ Investimentos fez o maior investimento. A companhia comandada pelo empresário Júnior Friboi, irmão de Wesley e Joesley Batista, adquiriu a Fazenda Ressaca, que pertencia aos irmãos Grendene. Os valores da negociação não foram divulgados, mas a propriedade de 37,5 mil hectares valeria mais de R$ 600 milhões, segundo os colegas do AgFeed.
Uma área de pecuária em Felixlândia, em Minas Gerais, também mudou de mãos. Em uma transação de R$ 118 milhões, a gestora Tane Capital comprou a Fazenda Tronco, uma propriedade de 5,2 mil hectares. Embora ainda seja dedicada à criação de gado, a propriedade mineira será convertida para agricultura, com um investimento em irrigação em 2,8 mil hectares.
A Jequitibá, que pertence ao empresário João Caetano Mello, será a operadora agrícola da Fazenda Tronco. Em expansão, a companhia da família Mello também é a operadora de outras duas fazendas em Mato Grosso que foram compradas neste ano pelo SNFZ11, Fiagro da Suno. Ao todo, a gestora da casa fundada por Tiago Reis investiu R$ 50 milhões nas fazendas.