BTG Pactual

A união entre BTG Pactual e Ceres não será mais uma parceria trivial entre a gestora do banco de André Esteves e a gestora mineira que se especializou em soluções de crédito para o agronegócio.

Anunciada ontem à tarde, a parceria é bem mais ambiciosa. A meta é construir a maior casa de investimentos no agronegócio nos próximos cinco anos, apurou The AgriBiz com fontes que conhecem a transação.

Atualmente, a vertical de agro da asset do BTG e a Ceres detêm um portfólio combinado de R$ 7 bilhões.

O primeiro passo da estratégia é a abertura de escritórios em diversos polos rurais. A depender das cidades, os escritórios podem ser mais completos. Uma parte atuará como uma loja de apoio mais simples — uma espécie de contêiner, similar a iniciativas já feitas por outras instituições financeiras.

Com o aporte do BTG na Ceres — a asset do banco poderá ter até 49,99% do capital —, a firma de investimentos vai abrir pelo menos 12 lojas até 2026 , apurou The AgriBiz. O foco são grandes Estados produtores, como Goiás, Bahia, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.

Nesses escritórios, serão ofertados serviços como trading, câmbio e derivativos, além de permitirem aos produtores tomarem crédito e ter acesso a serviços do BTG Pactual, como wealth management.

Na prática, a parceria combina o portfólio e o know-how do BTG com o jeitão “pé no barro” de fazer negócios da Ceres — a empresa já fazia esse tipo de aproximação com produtores da região de Uberaba, onde Guilherme Cunha, um ex-CFO da Ubyfol, fundou o negócio.

A Ceres ganha musculatura com o dinheiro injetado pelo BTG no negócio, tanto de forma direta, no caixa, quanto com o apoio com funding. Atualmente, a empresa conta com mais de 200 pessoas trabalhando, sendo pouco mais de 40 pessoas na área comercial — num esforço para ficar corpo a corpo com produtores e entender suas necessidades.

A asset do BTG e a Ceres se aproximaram após a emissão de um CRA pulverizado, lastreado em títulos de dívida de produtores rurais. Os clientes da gestora do banco investiram no papel. Emitido no primeiro semestre, o CRA de R$ 1 bilhão manteve a inadimplência baixa (menos de 0,1% nos atrasos em 60 dias) e entregou um retorno de 9% aos investidores até maio.

Para a Ceres, obter o funding com uma instituição financeira que conseguisse entender esse caráter sistêmico do agro era um calcanhar de Aquiles do negócio. Os sócios da Ceres desejavam um parceiro que compreendesse que o agro é muito mais do que duplicatas de soja e milho, segundo uma fonte.

O banco, por outro lado, ganha capilaridade para ter acesso a estruturação e originação de produtos em culturas que vão além da soja e do milho, levando um portfólio completo de produtos para para produtores que usualmente não seriam acessados de São Paulo.

A expectativa é que a união entre a capacidade de engenharia financeira do BTG Pactual e o conhecimento da Ceres resulte em novos produtos para a asset do banco. A proximidade também deve criar sinergias para a Engelhart, a trading agrícola do banco.