
SANTA BÁRBARA DO SUL (RS) — “Não é um guidance formal. É uma aspiração”. A fala do empresário João Marcelo Dumoncel dá um tempero de precaução às ambições da 3tentos. Mas, a julgar pelo histórico da companhia gaúcha em cumprir promessas, um salto está contratado.
Durante um encontro anual com investidores nesta quarta-feira, a 3tentos detalhou a ambição para os próximos anos. A meta é chegar aos R$ 50 bilhões de receita líquida em 2032, o que significa mais do que dobrar o faturamento ao longo dos próximos sete anos.
Para uma companhia que entregou as promessas do IPO antes do esperado, é um crescimento factível. Para cumprir as ambições, a 3tentos vai precisar crescer quase 19% ao ano — em termos comparativos, a empresa da família Dumoncel cresceu, em média, 30% ao ano desde 2015.
Não à toa, o mercado gostou do que ouviu. Na bolsa brasileira, as ações da 3tentos subiram mais de 6% no pregão desta quarta-feira. Com isso, a companhia gaúcha está avaliada em R$ 8 bilhões. Desde a abertura de capital, em julho de 2021, os papéis já subiram quase 40%.
Na prática, a 3tentos vai abrir novas fronteiras. Depois de ter desbravado o Mato Grosso com os recursos levantados no IPO, deixando de ser apenas um negócio restrito ao Rio Grande do Sul, a companhia vai estrear na distribuição de insumos em quatro Estados: Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Pará.
“O Brasil tem 12 estados relevantes na produção agrícola. Nós estávamos em dois [Rio Grande do Sul e Mato Grosso] e agora agregamos mais quatro. De alguma forma, chegamos na metade do mercado, o que amplia nosso tabuleiro para continuar crescendo”, afirmou João Marcelo durante o 3tentos Day.
Para crescer dois dígitos altos, a visão de ecossistema — unindo originação de grãos, indústria e distribuição de insumos — é parte crucial da estratégia, ainda que a 3tentos não vá levar as três frentes de atuação de uma vez para cada novo polo em que se instalar.
“O breakdown de receita entre os três pilares pode variar para um lado ou para o outro, dependendo do que nós vemos para diferentes geografias”, explicou Luiz Osório Dumoncel, presidente do conselho de administração da 3tentos.
O projeto da 3tentos no Pará
No Pará, a 3tentos terá pacote completo, com distribuição de insumos, originação de grãos e indústria de processamento. Por lá, a companhia vai erguer uma usina de etanol de milho, um investimento de R$ 1,1 bilhão com previsão de inauguração em 2028.
Para acelerar a indústria de etanol de milho, o 3tentos anunciou nesta quarta-feira que adquiriu a Grão Pará Bioenergia, que já conta com licenças e um terreno em Redenção para construir a usina.
A usina paraense era originalmente um projeto da família Mafra em sociedade com o grupo sucroalcooleiro CMAA. No entanto, a Selic nas alturas inviabilizou o plano.
Segundo Carlos Mafra Jr, o business plan inicial previa um payback de cinco anos. Com a Selic no atual patamar, esse retorno se subiria em dez anos. “Acreditamos muito no projeto, mas era uma operação com um nível de alavancagem alto. Ficou inviável para nós”, explicou o empresário ao The AgriBiz.
Em compensação, a família Mafra adquiriu áreas contíguas à usina de etanol de milho que a 3tentos terá para erguer um confinamento com capacidade estática para 40 mil cabeças de gado. Com isso, deve se beneficiar da abundante oferta de DDGs.
Quando estiver pronta, a usina de etanol de milho da 3tentos em Redenção terá capacidade de processamento de 2,1 milhões de toneladas de milho por dia. Isso demandará aproximadamente 100 mil hectares de plantio, para uma região que tem um potencial de conversão de 500 mil hectares de pastagens em agricultura, segundo o CEO da Tentos.
O racional para fazer o investimento em etanol de milho no Pará — que saiu a patamares superiores de custo do que a usina que a 3tentos construiu em Mato Grosso, notou o analista Gustavo Troyano, do Itaú BBA — tem a ver com o fortalecimento da 3tentos na região.
“O Pará conversa muito com o Vale do Araguaia. É praticamente a mesma região. com nível de desenvolvimento aquém de expansão de lavoura mas culturalmente e em estrutura agronômica muito parecida. A mesma lógica é a da expansão para o Tocantins e Goiás, que vai conversar com o Centro-Oeste como um todo”, afirmou João Marcelo.
Além da aptidão para a agricultura, o Estado ainda reúne um dos maiores rebanhos bovinos do Brasil, o que reforça a crença da 3tentos de uma aposta certeira na venda de DDG local.
“Nós temos convicção de que vamos entrar num ciclo onde o Pará vai ser um dos grandes protagonistas do aumento de área do Brasil com qualidade, com solo maravilhoso, regime de chuva muito bom e engatando um pouco, com logística ainda melhor do que a do Mato Grosso”, destacou João Marcelo. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)