O gargalo de infraestrutura que trava a amônia verde no Brasil

Um ano depois de iniciar a produção de amônia verde em pequena escala na fábrica de fertilizantes nitrogenados de Cubatão (SP), a Yara não conseguiu ganhar tração com o projeto, ilustrando como os gargalos da infraestrutura do País dificultam a descarbonização da agricultura.

Apesar do imenso potencial brasileiro para a produção de biometano a partir da vinhaça — um subproduto da moagem de cana —, não há gasoduto para transportar o insumo para utilizá-lo na produção de amônia verde.

“O Brasil necessita de investimentos em gasodutos para produção e consumo. Mas isso foge ao nosso escopo, não temos planejamento de investir em gasoduto. As empresas de infraestrutura precisam de uma regulamentação mais clara”, disse Marcelo Altieri, CEO da Yara no Brasil, durante um encontro com jornalistas na segunda-feira.

Diante das dificuldades, a produção de amônia verde da Yara ficou restrita a 4% da produção total de nitrogenados na fábrica de Cubatão, no litoral paulista.

O restante continua utilizando o gás natural, mais poluente. Para se ter uma ideia da oportunidade perdida pela falta de infraestrutura, a pegada de carbono da amônia verde é 75% menor em comparação ao produto que utiliza a matriz fóssil.

Na Yara, a falta de estrutura para trazer o biometano à fábrica faz com que boa parte da amônia verde comercializada pela companhia seja produzida na Noruega, sede da gigante de fertilizantes.

A amônia verde importada está no centro da estratégia de descarbonização da companhia, que vem desenvolvendo fertilizantes de baixo carbono para atender clientes nas cadeias de café, cacau e batata.

No Brasil, a meta da Yara é quadruplicar o peso da marca Yara Climate Choice, que reúne as alternativas de baixo carbono (fertilizantes de baixo carbono, como a amônia verde, ou bioinsumos).

O objetivo é consolidar as parcerias já estabelecidas e expandir pesquisas e parcerias para outras culturas. Atualmente, a companhia tem parceiros na área de café (Cooxupé, Coocacer Araguari, JDE e OFI), cacau (Barry Callebaut) e batata (PepsiCo).

Para 2026, a meta é levar a Yara Climate Choice para citros, milho, cevada e cana.

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No Brasil, a Yara é a única companhia a fabricar fertilizantes nitrogenados (sejam eles com gás natural ou metano), outra evidência da falta de competitividade do País neste mercado.