Plantio de soja; lavouras sofrem com chuva irregular | Crédito: Schutterstock

A primavera mostra-se mais desafiadora do que parecia em seu início para a agricultura, sobretudo para a soja super precoce. A demora na chegada da chuva em outubro fez com que regiões de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Maranhão e Piauí apelassem para o replantio. Agora, neste fim de novembro, embora a “gangorra” da precipitação esteja voltada para o centro e norte do país, a chuva não tem caído de forma abrangente.

Existem relatos de chuva forte em um município e vários dias sem precipitação no município vizinho. Com isso, a soja super precoce, que exige elevada umidade do solo durante todo o seu ciclo, começa a mostrar problemas em algumas fazendas, como abortamento de flores e vagens em áreas que foram instaladas primeiro.

Como diria um dos meus mentores, o meteorologista Paulo Etchichury, “a atmosfera está estéril, com temperaturas mais baixas e, por consequência, menor quantidade de vapor d’agua à disposição”.

De fato, além da entrada frequente de massas de ar frio e seco mais intensas que o normal nos últimos meses, a temperatura do oceano Atlântico junto à costa leste do Brasil está mais baixa que o normal desde o fim de setembro, diminuindo sua evaporação.

E com uma atmosfera mais fria, especialmente em altitude, além da menor quantidade de água, a chance de desenvolvimento de nuvens de tempestade com mais gelo que o normal aumenta. Por consequência, estamos vendo imagens impressionantes de granizo que chega a ser maior que um ovo de galinha.

Desde o fim de semana, as tempestades severas atingiram soja e trigo do norte do Rio Grande do Sul (especialmente na região de Erechim), parreirais do noroeste paulista, cana-de-açúcar do centro do estado de São Paulo e soja do sudoeste de Goiás e dos Campos Gerais do Paraná.

Além do granizo, a chuva, apesar de mais pontual, é forte em alguns lugares. No norte de Santa Catarina, o acumulado de chuva foi excessivo e trouxe problemas à agricultura. Um dos municípios, Luiz Alves, quarto maior produtor de banana no Brasil em 2024, viu parte de suas lavouras ficar debaixo d’água com uma precipitação de 140mm em poucas horas no início desta segunda-feira.

E para frente?

Nos próximos 15 dias, a “gangorra” da chuva permanecerá sobre o centro e norte do País, alcançando o Matopiba, sul do Pará e do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.

Mesmo com a gangorra, chamo a atenção para os “buracos de tempo seco”. Áreas próximas da Ilha do Bananal, no sudoeste de Tocantins, por exemplo, receberão menos chuva que o normal. O mesmo vale para o Alto Araguaia, no sul de Mato Grosso. Ou seja, ouviremos relatos de excesso de chuva, mas também de falta dela em um mesmo Estado, em áreas relativamente próximas.

Com a gangorra voltada para a porção norte, espera-se pouca chuva desde o Rio Grande do Sul até o centro de Minas Gerais nos próximos 15 dias. Isso não quer dizer que o tempo ficará completamente seco, já que um ciclone extratropical deverá passar pelo centro e sul do país (com tempestades e eventual granizo) no início da próxima semana.

A questão, no entanto, é que esses eventos chuvosos virão com cada vez menos frequência, sobretudo no Rio Grande do Sul, colocando em risco o bom desenvolvimento da soja e do milho.

No café, observa-se oscilação de preço nesta semana por conta da chuva excessiva no Vietnã, mas também por conta dos baixos acumulados registrados no sul de Minas Gerais neste mês de novembro. Com a tendência de chuva abaixo do normal nos próximos 15 dias em boa parte do território mineiro, é possível que ainda surjam especulações em torno do tema.