Jai Shroff, CEO da UPL, e o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues na COP30
Jai Shroff, CEO da UPL, e o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues na COP30

Não será por amor ou ideologia que os produtores rurais farão “o trabalho adicional” de preservar o meio ambiente e reduzir emissões. Essa é a visão de Jai Shroff, CEO global da UPL.

Engajada na agenda da transição para uma economia de baixo carbono, a gigante indiana de defensivos agrícolas faz eco a uma das mensagens mais exaustivamente repetidas pelo setor privado na COP30.

“Se criarmos um sistema pelo qual o fazendeiro ganhe uma renda extra pelo trabalho extra [de preservar o meio ambiente], ele poderá se dedicar melhor à sua missão de alimentar as pessoas. Até aqui, o que temos feito é exigir dele que salve o mundo”, disse Shroff ao The AgriBiz.

Em entrevista concedida na segunda-feira, logo depois de voltar de uma agenda de uma semana em Belém, o CEO global da UPL argumentou que a renda extra não precisa ser um investimento colossal.

Segundo ele, “mesmo um incentivo pequeno para os padrões da indústria, de algo como US$ 25 (R$ 133) por hectare”, já ensejaria uma significativa mudança de comportamento dos produtores.

De vilão a herói

Duante sua estada na COP30, Shroff e a UPL se dedicaram a tentar elevar os produtores ao status de herói. Não só nas mensagens-chave disparadas pelo executivo em painéis e entrevistas, mas também em uma campanha publicitária divulgada no evento, sob o mote “The hero you don’t know you need” (o herói de que você não sabe que precisa, em inglês).

A ideia, diz Shroff, é valorizar os cerca de 1 bilhão de produtores rurais no mundo pelo papel que desempenham na alimentação global, e mudar a narrativa sobre o papel deles na crise climática.

Entre esses “heróis”, um exemplo é o brasileiro Valter José Potter, da Vinícola Guatambu, em Dom Pedrito (RS). Nas contas da UPL, as iniciativas dele, como uso de energia solar em 100% da demanda da fazenda, vêm permitindo produzir vinho com carbono equivalente negativo — a operação mais sequestra do que emite gases causadores do efeito estufa.

Para Shroff, o agronegócio ganhou peso nesta COP em comparação com edições anteriores, mas ainda não é o suficiente.

“Deveria haver uma COP separada só para a agricultura. Essas pessoas nos alimentam e podem guiar a transição ambiental. A mensagem é simples: senhor Presidente de seja lá qual país, por favor, fale com seus fazendeiros. O que não falta são histórias de heroísmo.”

Apoio financeiro

Shroff defende que o apoio financeiro para a transição da agricultura poderia vir na forma de juros subsidiados pelo governo. “Talvez os bancos públicos, como o BNDES, pudessem dar mais descontos nas taxas para quem reduz emissões.”

Dos bancos privados, dificilmente virá mais ajuda, acrescentou. “Eles não apoiam porque é muito arriscado, não entendem o suficiente do negócio para tomar aquele risco e saem correndo”.

Para ajudar a suprir a carência financeira, a UPL vem dando publicidade a iniciativas que viabilizam seguros a preços acessíveis para produtores em regiões vulneráveis, como a própria Índia, a África e a América Central.

Em uma delas, cerca de 6 mil produtores de arroz na Guiana estão recebendo apoio do Banco Mundial para contratarem “seguros climáticos paramétricos”.

Nessa modalidade, o pagamento da apólice é feito automaticamente quando ocorre certo nível de chuva, de vazão de rios ou de velocidade do vento que ultrapasse limites pré-definidos. Isso elimina a necessidade de avaliação presencial dos prejuízos e agiliza a assistência.

Criado como um piloto em 2010, o programa se tornou operacional neste ano. “Mesmo um nível inicial de proteção já se mostra suficiente para permitir que o agricultor foque em tecnologias e tenha um retorno melhor”, diz Shroff.