
O Banco do Brasil já vinha sinalizando ao mercado uma postura mais dura em relação aos pedidos de recuperação judicial no agro — um discurso endossado mais uma vez na teleconferência de resultados desta quinta-feira.
“Nós continuamos bastante rígidos na defesa dos nossos interesses e, no próximo trimestre, vocês vão observar que a gente deve protocolar alguns pedidos de falência, justamente para poder estabilizar esses processos e que, quem recorra a esse mecanismo, recorra de forma legítima”, ressaltou Felipe Prince, diretor de riscos do BB.
No balanço do terceiro trimestre, o banco mostrou que tem hoje mais de 900 processos de recuperação judicial no agronegócio — que somam R$ 6,6 bilhões em créditos travados dentro dessa via judicial. Hoje, a carteira em RJ já tem um provisionamento de 75% para perdas.
Em pouco mais de um mês, no quarto trimestre, a situação continuará se deteriorando.
“O número de RJs continua crescendo, embora a gente espere um arrefecimento disso exatamente pela disponibilização da nossa nova linha de renegociação, criada dentro da MP 1314. Estamos investindo fortemente na negociação, assim como nossos pares de mercado”, destacou Prince.
No primeiro call de resultados depois de assumir a vice-presidência de agronegócio do BB, Gilson Bittencourt destacou que há casos de produtores que estão em recuperação judicial e procuram a instituição financeira para tentar sair desse processo, buscando uma renegociação dentro das linhas da própria instituição.
“São casos pontuais, mas existem”, frisou Bittencourt, que em julho deixou o cargo de subsecretário de Política Agrícola do Ministério da Fazenda para assumir a posição no BB.
A disposição do banco para negociar está atrelada com a baixa que esses processos têm causado nos resultados do BB. Do segundo para o terceiro trimestre, o banco viu o montante de RJs subir de R$ 5,4 bilhões para R$ 6,6 bilhões, o que também trouxe um impulso para o provisionamento para perdas.
“Tivemos um aumento no custo do crédito, que chegou a R$ 17,9 bilhões. As provisões foram fortemente afetadas pelo agro, cuja inadimplência superou 5% da carteira”, explicou Tarciana Medeiros, CEO do BB.