Sede do BB | Schutterstock

A inadimplência no agronegócio pode começar a melhorar a partir do início do ano que vem, segundo executivos do Banco do Brasil — instituição que teve, mais uma vez, os resultados trimestrais afetados pelos atrasos nos pagamentos dos produtores.

“Agora nós temos uma solução estruturada e disponível. Além disso, o fluxo de vencimentos no quarto trimestre é menor. Nesse conjunto, pretendemos mostrar uma inflexão da curva [de atrasos] a partir do primeiro trimestre de 2026”, afirmou Felipe Prince, diretor de riscos do Banco do Brasil, em teleconferência com analistas nesta quinta-feira.

A tal solução é, na verdade, um programa de renegociação de dívidas (BB Regulariza Agro), criado após a criação da Medida Provisória 1314, publicada neste ano pelo governo federal para ajudar na renegociação de dívida de produtores rurais.

O texto da MP autorizou tanto a disponibilização de linhas de crédito com recursos de fontes supervisionadas como com recursos livres dos bancos — e este último ponto é o foco do programa do BB. Podem entrar nessa seara créditos de produtores pessoa física, pessoa jurídica e de cooperativas — incluindo custeio, investimento e CPRs.

“Nós estamos buscando um público que estava adimplente com o banco, mas que em função de problemas de preço ou climáticos, prorrogou dívidas por dois ou três anos. Com a nova medida de renegociação, a expectativa é conseguir dar prazos e condições no tempo certo, para que esse produtor possa reestruturar seu fluxo de pagamentos e reduzir a inadimplência”, destacou Gilson Bittencourt, VP de Agro do BB.

R$ 28 bi, a meta de renegociação

O programa prevê carência de pagamento de principal por um ano (nesse período, o produtor só paga juros) e um alongamento de dívidas de até nove anos, sendo avaliado caso a caso.

O programa começou no dia 21 de outubro e tem como meta, por enquanto, desembolsar R$ 24 bilhões em recursos livres do banco para as renegociações. O banco ainda tem R$ 4,3 bilhões em recursos controlados (de um total de R$ 12 bilhões que o governo liberou para todas as instituições financeiras).

Cada real renegociado dentro desse programa com recursos livres gera benefícios de capital para o banco relacionados a créditos tributários que poderão ser utilizados — o que contribui para melhorar o funding. 

“A gente inclusive tem se preparado para ter condições competitivas para fornecer aos nossos clientes para ir além dos R$ 24 bilhões. É o nosso primeiro alvo, mas não necessariamente o último”, destacou Prince.

Hoje, apenas recursos próprios dos bancos podem ser usados para essa renegociação, mas já existe uma expectativa de que LCAs possam em breve ser autorizadas como fonte de recursos, um ponto que ampliaria a disponibilidade de recursos a um custo menor, destacou Bittencourt.

Em menos de um mês, o banco já alcançou R$ 5,4 bilhões em renegociações já aprovadas com recursos livres — a expectativa inicial era alcançar esse volume em 60 dias. Do total já aprovado, 30% foi renegociado com taxas pós-fixadas, ajudando o banco a controlar de forma mais direta ativos e passivos.

Outros R$ 11,4 bilhões estão em análise. “Já contatamos 75% dos clientes que são o público-alvo da linha e estamos apresentando as condições do produto e reforçando aos clientes que essa é a melhor forma de negociar”, ressaltou Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil.

Com as medidas de redução de inadimplência colocadas em marcha, o banco pretende manter a carteira de agronegócio na faixa de R$ 400 bilhões para o próximo ano. A lógica é que parte da queda em novas contratações seja absorvida pelas renegociações de dívidas decorrentes da MP.

Crédito novo e garantias

Além de alongar prazos para os clientes, o banco também está buscando novas garantias para reduzir o risco nos financiamentos. Hoje, metade das operações renegociadas tem alienação fiduciária vinculada, refletindo uma mudança importante na gestão do banco, que antes focava principalmente no penhor de safra.

Quanto ao financiamento para a nova safra, as mudanças têm refletido em uma demora na liberação dos recursos, admitiu Marco Geovanne Tobias da Silva, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores.

“Um dos efeitos que a gente está tendo que enfrentar nesse momento é até um pouco da redução da liberação da nova safra, porque o processo está mais longo. Temos feedbacks dos nossos clientes e explicamos a importância. Eles estão entendendo, estão fazendo. Mas dependemos também do tempo dos cartórios para registrar a alienação fiduciária”, contou. “Olhando para 2026, vai ficar um processo muito mais suave”, acrescentou.

De olho nos arrendatários

Ainda de olho no futuro, o Banco do Brasil permanece com a botina no campo, mas passou a observar com mais cautela o relacionamento com arrendatários.

“Não estamos fechando a porta, mas estamos fazendo alguns ajustes em clientes com arrendamentos, observando a alavancagem elevada tanto para pagar a terra arrendada como para lidar com os custos de produção”, disse Bittencourt.

Outro ponto em que o BB está investindo fortemente é no acompanhamento de riscos para além da ampla base de dados da instituição financeira — que tem informações desde a safra de 1960. Tecnologias como georreferenciamento e análises com inteligência artificial têm ajudado o banco a identificar desvios de produtividade e riscos climáticos.

O banco também está aumentando o acompanhamento dos clientes no pós-produção, acompanhando os estoques que estão em garantia para que sejam convertidos em receita (posteriormente canalizada ao banco, com a venda da produção).