Integração lavoura-pecuária-floresta | Tony Oliveira/CNA

BELÉM (PA) – Um estudo elaborado pela FGV em parceria com a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) deu números a um discurso que vem marcando a COP30, sobre o potencial de redução de emissões de gás carbônico e outros gases causadores de efeito estufa pela pecuária brasileira.

De acordo com o trabalho, divulgado nesta quarta-feira (12) na Conferência do Clima, em Belém (PA), essa descarbonização por quilo de carne produzida pode oscilar entre 79,9% e 92,6% até 2050, a depender do nível de adoção de práticas sustentáveis pelo setor.

Para estimar o potencial de descarbonização, o estudo analisou quatro cenários possíveis. No primeiro, no qual o setor apenas mantém o nível atual de adoção de práticas, conversão de pastagens e aumento de produtividade, a redução nas emissões ficaria no menor patamar, de 79,9%.

Segundo a Abiec, a pecuária nacional elevou em 183% sua produtividade desde 1990, ao mesmo tempo em que reduziu a área ocupada por pastagens em 18%.

“A pecuária já vem numa trajetória de melhoria, com um cenário de tecnologia sendo adotada. Hoje, temos vários exemplos de fazendas que são carbono neutro, algumas até carbono negativo. Mesmo que essa tendência apenas se mantenha, já teremos uma redução substancial, com a inclusão de mais fazendas”, explicou ao The AgriBiz Fernando Sampaio, diretor de sustentabilidade da Abiec.

No segundo cenário, considerando o cumprimento da meta do governo brasileiro de zerar o desmatamento até 2030, a redução nas emissões por quilo de proteína animal chegaria a 86,3%.

No terceiro cenário, que leva em conta uma adoção integral do Plano ABC+ (Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária), do Ministério da Agricultura e Pecuária, com foco na recuperação de pastagens degradadas e na expansão de sistemas integrados, a descarbonização chegaria a 91,6%.

E, no último panorama, incorporando técnicas zootécnicas, como aditivos alimentares para redução de fermentação entérica e do abate precoce, a queda na emissão de carbono chegaria a 92,6%.

“Esse é um mapa do caminho que a gente quer articular com o governo e o setor privado. Depende de assistência técnica e investimentos, mas agora temos uma base científica que mostra o que precisa ser feito para o Brasil descarbonizar sua cadeia da carne”, completa Sampaio.

Para Guilherme Bastos, coordenador do FGV Agro, o estudo confirma o papel da pecuária como uma participante essencial para o cumprimento das metas climáticas do Brasil.

“O resultado do estudo reforça que a pecuária tropical brasileira já vem se tornando cada vez mais regenerativa e inovadora. No entanto, a adoção de políticas públicas e tecnologias de ponta é o que garante o salto de eficiência necessário para que o Brasil se posicione na vanguarda da sustentabilidade”, ressaltou Bastos.

Segundo Camila Genaro Estevam, pesquisadora da FGV Agro e uma das responsáveis pela elaboração do estudo, uma lacuna — que ficará para os próximos passos da pesquisa — foi a comparação do Brasil com outros países no que diz respeito à redução das emissões.

“É importante que esse estudo seja publicado, é um primeiro passo. A gente não vai ganhar tração apenas recebendo estudos de fora. Uma vez publicado, ganha notoriedade, e viabilizará novos estudos no futuro para aprofundar a literatura”, comentou Estevam.