
Na reta final de 2025, vem aí o terceiro leilão do EcoInvest, iniciativa de governo que combina capital público ao privado para financiar projetos verdes. Cerca de 15 segmentos foram mapeados para essa edição, incluindo cadeias ligadas ao agronegócio, como a produção de biocombustíveis (SAF, biogás e biometano), bioinsumos e biofertilizantes.
“A beleza das cadeias é que uma fomenta a outra, pensando em etanol, SAF, até biometano. A gente espera que as cadeias de armanzenamento de energia, por exemplo, também se desenvolvam ao longo do tempo… O Brasil tem uma oportunidade enorme nessas cadeias que se retroalimentam”, destacou Bruno Aranha, diretor de crédito da Yvy Capital, em evento promovido pelo Demarest Advogados, em São Paulo, na semana passada.
Os bancos interessados em participar dessa edição poderão enviar propostas até o dia 19 de dezembro — e não mais 19 de novembro —, adiantou Mario Gouvêa, coordenador do programa Eco Invest Brasil no Tesouro Nacional.
Diferentemente das edições passadas, que focaram principalmente em instrumentos de dívida para financiar os projetos selecionados, nessa edição o EcoInvest vai pela primeira vez colocar os pés em investimentos em participação societária (equity).
O principal objetivo dessa edição é que esse investimento seja feito via fundos, que vão acessar os recursos tomados pelos bancos contemplados no leilão — que exige uma alavancagem mínima de três vezes para o montante que for tomado junto ao Tesouro.
O EcoInvest quer estimular investimentos no formato similar a um private equity, com a alocação sendo feita num período de cinco anos.
Trazendo esse raciocínio para o agronegócio, há espaço para estruturas que contemplem grandes agregadores do setor, capazes de fazer uma análise mais precisa da cadeia e minimizar o risco dentro desses fundos, explicou Thiago Giantomassi, sócio de mercado de capitais do Demarest.
“No caso do agronegócio, a gente tem a figura das empresas-âncora, sejam elas grandes revendas ou grandes indústrias químicas, por exemplo, que já têm um screening dos players menores. É possível fazer operações em que os tomadores ou offtakers sejam esses grandes agregadores, que tomem recursos, ou viabilizem essa captação, para fazer esse investimento em crédito ou equity, a depender do leilão”, destacou o sócio.
Os fundos criados a partir dessa edição do EcoInvest devem ter pelo menos 15% de investidores estrangeiros e pelo menos 20% da alocação feita em empresas em estágio inicial (venture capital).
Se não for possível chegar a esse percentual no venture capital, a alocação poderá ser feita em instituições como a Embrapii e o ICT (Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação).
Como vai funcionar
A dinâmica é a seguinte: o Tesouro vai repassar os recursos para os bancos a juros de 1% ao ano, com a obrigação de as instituições financeiras aplicarem dois mecanismos de incentivos.
O primeiro envolve deixar metade do dinheiro subsidiado na tesouraria do banco e, sob a lógica de que o spread entre o custo do dinheiro tomado e o quanto ele vai render (ainda mais em uma Selic de 15% ao ano) é elevado, o banco tem que usar parte desse dinheiro para comprar derivativos de câmbio. Estes serão entregues aos investidores estrangeiros que farão parte dos fundos de investimento.
Assim, os investidores estrangeiros poderão minimizar eventuais perdas decorrentes da valorização do real ao longo de cinco anos. Essas opções serão dadas a eles— não vão entrar no dinheiro que será aportado por eles nos fundos.
Na medida em que esse instrumento vai custar uma fração do que o banco está ganhando, o plano é que o banco faça uma alavancagem desses recursos. “Como o programa estabelece um mínimo de 15% de investidores internacionais nos fundos, se o banco tomar R$ 100 milhões, pode conseguir proteger R$ 500 milhões”, disse Gouvêa.
Toda essa dinâmica dos derivativos compreende metade do dinheiro a ser emprestado pelo Tesouro aos bancos. A outra metade do dinheiro subsidiado será destinada pelos bancos às estruturas dos fundos do EcoInvest — sejam eles da própria asset do banco ou de outras gestoras.
Esse dinheiro é repassado a um custo de 5% ao ano para os fundos. “É um patamar justificável, na medida em que o risco de crédito continua com o banco, relatórios também. Então colocamos o spread para que o banco tenha interesse em operacionalizar, mas garantimos que uma parte considerável desse retorno fica na estrutura do fundo”, completou Gouvêa.
O banco leva esse recurso para dentro do fundo, seja através de um empréstimo ou de uma cota desse fundo, mas esse recurso não vai ser usado para financiar as operações — ficará aplicado e o excedente de retorno funcionará como um suporte para atrair capital.
“Ele pode constituir um first loss, pode constituir algum instrumento que mitigue o risco de uma carteira de investimento em projetos que são arriscados. E aí o gestor pode utilizar esse ganho financeiro da forma como ele acha mais interessante para alavancar esse pipeline de projetos”, explicou o coordenador do Ecoinvest.
De olho em trazer o incentivo para o lugar certo, Gouvêa lembrou que, se uma asset tem projetos na carteira dela que têm alguma integração com cadeias globais (seja via co-investimentos ou contratos de offtake) isso pode disparar vantagens adicionais.
“Se pelo menos 20% da carteira tiver esse tipo de contrato, isso dispara mais um ano de carência no empréstimo original que o banco teve e que foi para o fundo. Isso para que o fundo permita que o projeto na ponta tenha uma condição financeira melhor para poder, inclusive, beneficiar aquele comprador na ponta que está estabelecendo um contrato de longo prazo”, destacou.