Gargalo na genética avícola desafia indústria do frango, poultry | Crédito: Schutterstock

A restrição de genética avícola que vem dificultando o crescimento da produção global de carne de frango ainda vai levar alguns anos para ser resolvida, o que é (paradoxalmente) uma boa notícia para os frigoríficos.

Sem excedente de oferta, as margens tendem a continuar em níveis acima do histórico.

À frente da maior exportadora de frango do Brasil, Miguel Gularte traçou uma perspectiva de dois a três anos para que as casas genéticas consigam superar o atual gargalo, marcado por linhagens de aves com baixa taxa da eclosão (ou seja, os ovos não viram pintinhos).

Em teleconferência com analistas e investidores nesta terça-feira, o CEO da MBRF disse que companhias como a dona da Sadia buscam reduzir a taxa de mortalidade — em uma tentativa de ganhar produtividade nas granjas — mas isso não resolve o problema.

“Estamos falando de dois a três anos para ter uma reversão completa. É um processo que vai acontecer, sem dúvida. Mas o impacto não será visto no médio prazo. É coisa de longo prazo”, disse Gularte.

A menor produtividade da genética avícola está no centro das discussões dos analistas sobre o ciclo da carne de frango (e, por tabela, as perspectivas de valuation e resultados dos principais players).

Nos Estados Unidos, os sinais de recuperação da produção de carne de frango chegaram a derrubar as ações de companhias como Tyson Foods, Pilgrim’s Pride e JBS. No Brasil, essa discussão mexe particularmente com a MBRF.

Mas a julgar pelos dados citados por Gularte, ainda há um longo caminho para a recuperação da oferta de frango.

Segundo o executivo, a taxa de eclosão caiu cinco pontos percentuais neste ano. E mesmo com um crescimento de 2,9% no alojamentos de pintinhos no acumulado do ano até setembro, a produção brasileira de carne de frango cresceu apenas 0,3%.

“Não vemos um desequilíbrio de oferta”, resumiu o CEO da MBRF.

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Não à toa, as ações da dona da Sadia reagiram positivamente à teleconferência com investidores. Os papéis da MBRF subiram mais de 8% nesta terça-feira, a quarta maior valorização do Ibovespa. A companhia está avaliada em quase R$ 27 bilhões.