Ricardo Mussa (à direita), chair da SB COP, conversa com o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, no primeiro dia da conferência em Belém | Crédito: CNI
Ricardo Mussa (on the right), SB COP chair, talks to André Corrêa do Lago, COP30's president, at the conference in Belém | Photo credit: CNI

A COP de Belém será mais pragmática do que as anteriores e com maior abertura para o setor privado. A análise é de quem esteve mergulhado nesse universo desde o início do ano: Ricardo Mussa, chair da SB COP, sigla para Sustainable Business COP 30 — uma iniciativa global liderada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) criada para influenciar as discussões da conferência do clima.

Para ele, a falta de um ambiente propício para um consenso global — com tensões geopolíticas e a ausência dos Estados Unidos — resultará numa COP mais pragmática.

“Cada COP teve um legado. Na COP de Paris, há dez anos, saiu o acordo com metas [de redução de emissões] para cada país. A de Dubai teve como legado falar do fim do combustível fóssil em algum momento. A COP de Baku entregou um financiamento de US$ 300 bilhões. Na minha visão, o legado do Brasil é o plano de ação”, afirmou Mussa em entrevista ao The AgriBiz.

Como 85% das emissões globais estão no setor privado, essa será a COP com maior abertura para participação das empresas, avalia.

“Em vez de falar de novas metas e novo apoio, vamos olhar para o que precisamos fazer. Essa é uma COP mais pragmática do que as anteriores. E a contribuição da SB COP é mostrar o caminho através do exemplo. Isso foi muito rico”, disse.

Ao liderar a SB COP, Mussa foi responsável por levantar, agregar e selecionar propostas do setor privado que foram encaminhadas aos negociadores como sugestões de prioridades nos debates que ocorrerão no Pará — tarefa árdua considerando o extenso grupo de mais de 60 associações empresariais representando 41 milhões de companhias em todo o mundo.

Os representantes foram divididos em oito grupos de trabalho focados em diferentes setores. O grupo de sistemas alimentares, liderado pelo CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, sugeriu como prioridade para os debates de Belém a padronização de um modelo de medição de carbono adaptado à agricultura tropical.

“Estamos tentando influenciar os negociadores do Brasil para que todos os pontos levantados como prioridade em cada grupo encontrem espaço na agenda”, explicou Mussa. Da mesma forma, cada país está tentando influenciar os seus negociadores.

E se o executivo tivesse de escolher uma única recomendação, entre todas levantadas? “De tudo o que eu vi, o que mais precisamos é um mercado de carbono que funcione. Se eu tivesse que ter um tópico para o setor privado patrocinar, é fazer a contabilidade do carbono correta e patrocinar o mercado de carbono mundial.”

Segundo Mussa, a forma como é realizada a contabilidade do carbono, que foi desenvolvida há cerca de 30 anos, precisa de adaptações para ganhar credibilidade. “Uma necessidade hoje é melhorar a contabilidade do carbono, e temos tecnologia e ciência para isso.”

Cases de sucesso

Além das recomendações para os negociadores, a SB COP selecionou 48 cases empresariais, de um total de 1.500 apresentados, que fizeram a diferença no enfrentamento às mudanças climáticas e podem ser replicados em outros lugares do mundo.

Em sistemas alimentares, seis projetos foram selecionados, quatro deles no Brasil: o projeto de agricultura regenerativa e integração lavoura-pecuária da Fazenda Roncador; os escritórios verdes da JBS; o programa PRO Carbono da Bayer; e o programa da Nestlé de apoio à agricultura regenerativa em lavouras de café no País.

A escolha dos cases seguiu os seguintes critérios: o projeto precisa ter sido implementado há menos de três anos, ter apresentado retorno financeiro, impacto no combate às mudanças climáticas, precisa ser escalável e replicável.

A eleição contou também com a participação de oito consultorias renomadas internacionalmente que ajudaram a entender o motivo do sucesso dos cases.

“A partir desse entendimento, concluímos no que os negociadores deveriam focar”, explicou Mussa. “Quando você tem um exemplo concreto, fica difícil alguém ser contra. É uma mudança de perspectiva: deixa de ser o estatal orientando o privado, e passa a ser o privado puxando a política pública.”

A SB COP é uma invenção brasileira — e deve continuar como legado para as próximas COPs. A iniciativa foi inspirada no B20 Brasil, outro grupo coordenado pela CNI que reuniu empresários e executivos de diferentes setores para influenciar as discussões da Cúpula de Líderes do G20 realizada no Rio de Janeiro, no ano passado.

“No final, todos os países que sediarem as próximas COPs, seja Austrália ou Turquia, vão ter o mesmo processo. É um incentivo para que o país-sede invista tempo e expertise do setor privado. Ficamos muito satisfeitos e esperamos um impacto enorme no direcionamento de investimentos para a região amazônica”, disse Mussa.

(Colaborou Rafael Gregório, de Belém)