Reverte, Fazenda Biancon

PARANATINGA (MT) – O maior programa de recuperação de áreas degradadas do Brasil vai colocar o pé no acelerador. Nos próximos cinco anos, o Reverte (uma parceria entre a Syngenta e o Itaú BBA) quer recuperar 700 mil hectares — nos últimos cinco, o programa conseguiu 279 mil.

Chegar até lá depende de diferentes fatores — incluindo os preços das commodities —, mas o banco estuda diferentes caminhos. Um deles, por exemplo, é usar parte dos recursos do Reverte para financiar produtores que entraram para o Ecoinvest.

“Estamos estudando isso ainda. Estamos montando uma área para poder mensurar e acompanhar esse cliente. A gente tem que ajudar o cliente a traduzir o que o Ecoinvest pede também”, explica João Adrien, head de ESG Agro do Itaú BBA.

O desafio de chegar ao primeiro milhão de hectares recuperados é grande, mas ainda representa uma parte ínfima do potencial que o Brasil tem. Dados da Embrapa mostram que há 40 milhões de hectares no País com algum nível de degradação e potencial para a agricultura.

“Conseguir transformar tudo isso significa praticamente dobrar nossa produção de carne, de grãos, de fibra, de energia, sem desmatar nenhum hectare. Essa é a grande narrativa”, frisa Jonas Oliveira, gerente de sustentabilidade da Syngenta no Brasil.

No caminho para chegar até lá, o Reverte atua tanto na ponta de financiamento aos produtores como na assistência técnica para conseguirem transformar essas áreas.

O volume de empréstimos bateu, recentemente, os R$ 2 bilhões — ou 15% dos produtores financiados pelo Itaú BBA. Os empréstimos têm carência de três anos a sete anos. Para o produtor, o custo com juros é de um ponto a dois pontos percentuais mais baixo do que os de mercado.

“Dez anos é quase um casamento, então é um processo bastante criterioso de análise. Tem muitos clientes que sabem de irregularidades no CAR, por exemplo, ao se inscreverem no programa. Mas, estando tudo certo, em 60 dias os recursos são liberados”, explica Adrien.

O Reverte libera tanto recursos para investimento na lavoura como para renovação do custeio anual (não são públicos os percentuais para cada um deles). O produtor, de toda forma, pode tomar apenas os recursos para investimento, se julgar necessário.

“Em termos de custo, nós nem nos comparamos com Plano Safra, por exemplo, nem com o Ecoinvest. Por outro lado, temos mais flexibilidade para aportar esses recursos, por exemplo”, frisa Adrien.

Os recursos vêm do próprio Itaú, que capta usando os instrumentos tradicionais (principalmente LCAs, com alguma participação de CPRs físicas também). Recentemente, o banco também fez uma operação de securitização da carteira ESG, levantando R$ 1,4 bilhão junto ao IFC e IDB Invest.

Para o produtor, o custo para converter uma pastagem degradada mudou muito ao longo do tempo. Em 2019, a necessidade era de R$ 10 mil por hectare para converter de pastagem para agricultura, segundo Oliveira, um número que hoje está em R$ 16 mil.

“Na média do Reverte, de R$ 7 mil por hectare, a gente vê que o produtor toma os recursos para a recuperação do solo. Máquinas e equipamentos ele acaba aproveitando de fazendas próximas”, afirma.

Quem já fez

Até aqui, o Reverte já atendeu 410 fazendas, que converteram, em média, 2.000 hectares. O primeiro grupo a participar do programa foi o Biancon, de Itaúba (MT).

Com uma área arrendada total de 22 mil hectares, a família tomou o empréstimo em 2020 para transformar quatro mil hectares, a um custo de US$ 500 por hectare — aproveitando os três anos de carência.

Na região, outro grupo que usou os recursos do Reverte foi o JCN, de Kriss Corso, que converteu oito mil hectares na fazenda localizada em Paranatinga (MT), uma área de 44 mil hectares.

“Se um produtor planta em uma área de pastagem degradada, sem investimento, ele vai ter um retorno de 40 sacas de soja em uma área mais arenosa, se plantar sem calcário e sem adubo. Se ele fizer dois anos de reserva com o gado em cima, a probabilidade de colher 30 a 40 sacos a mais é bem maior”, destaca Elson Esteves, gerente das fazendas do Grupo JCN.

Para aumentar essa produtividade, na fazenda, para cada hectare foram usadas dez toneladas de calcário, uma tonelada de super simples e mais ou menos 300 quilos de KCL (fertilizante). Com investimentos em pecuária, o grupo pretende, em dois anos, diminuir em 50% o uso de fertilizantes químicos na lavoura da fazenda.

“Se você conseguir colocar oito bois por hectare durante 90 dias, naquela área você já substitui metade. A gente não consegue fazer isso na fazenda inteira, porque teria de ter 200 mil cabeças. Então confina, vai amontoando durante o ano, aí joga gesso, calcário, coloca vírus e bactérias depois na roça. Essa é a tal agricultura regenerativa”, explica Esteves.

A repórter viajou a convite da Syngenta e do Itaú BBA.