Leilão do Gemte, organização sem fins lucrativos para melhorar educação em Mato Grosso | Crédito: Divulgação
André Esteves e Guilherme Scheffer durante evento realizado pelo grupo sem fins lucrativos Gemte para levantar recursos para apoiar a educação em Mato Grosso | Divulgação

CUIABÁ (MT) – É quinta-feira em Cuiabá. No calor de 37 graus, mais de 700 pessoas chegam, no fim da tarde, ao Buffet Leila Malouf. Não se trata de qualquer evento, nem de show ou festival, mas sim de uma oportunidade rara fora do eixo Rio-São Paulo: reunir empresários e banqueiros para discutir e apoiar filantropia.

A ocasião é a ponta mais recente do trabalho realizado pelo Gemte (acrônimo para Grupo Empreendedor Mato Grosso em Evolução), uma organização sem fins lucrativos idealizada por Guilherme Scheffer e que tem na diretoria Luiz Piccinin, Lorena Lacerda, Álvaro de Carvalho, Marcelo Cintra, Marcos Cruz Júnior e Juliano Bortoloto.

O foco do Gemte, que saiu do papel oficialmente em 2020, é trabalhar a quatro mãos com gestores públicos para fazer um planejamento estratégico de longo prazo. É um olhar muito mais focado na gestão de recursos das secretarias de educação — sem interferências nos projetos pedagógicos.

“O gestor público está na correria e, muitas vezes, não tem tempo de pensar em longo prazo. Está lá, atendendo pais e mães, todos os dias. É aí que entra o que o Gemte faz de melhor. Fazer um diagnóstico geral, desde a infraestrutura de escolas, salários e processos”, afirmou Scheffer ao The AgriBiz.

O racional, no fim das contas, é fazer um trabalho conjunto focado na melhor destinação dos recursos das secretarias, num trabalho que começa no mapeamento e se transforma em um diagnóstico, com um planejamento e indicadores a serem mapeados.

“Criamos um plano de educação de dez anos em parceria com o governo do Estado, com metas audaciosas para 2032. Não queremos ser os protagonistas disso, mas sim focar em construir um trabalho a quatro mãos, apartidário e de longo prazo”, destacou Campos.

Leilão beneficente do Gemte | Divulgação

Em um curto espaço de tempo, o programa conquistou resultados. Em quatro anos, o Mato Grosso saiu de 22º para o 8º lugar no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que analisa o desempenho no ensino médio, por exemplo. Além disso, professores da rede estadual têm até 15º salário, dependendo do desempenho de alunos.

Para construir esse trabalho, o Gemte conta com o apoio de 23 empresas, chamadas de mantenedores, que doam de R$ 5 mil a R$ 20 mil por mês, do próprio caixa. Os recursos vão para o time executivo e de técnicos, que fazem a parte de política administrativa, além de consultorias contratadas para desenvolver esses planos, como a Fundação Dom Cabral e a Falconi.

Nessa estrutura, o Gemte conseguiu, até aqui, atender as escolas públicas ligadas ao governo do estado e também oito municípios (Chapada dos Guimarães, Diamantino, Barra do Bugres, Canarana, Rondonópolis, Tangará, Sapezal e Campo Verde). Numa prova da força do projeto, mesmo cidades que trocaram de prefeito nas últimas eleições mantiveram o Gemte de lá.

Agora, o foco é ir além — e o evento de ontem conversa com esse projeto de futuro.

O endowment de Mato Grosso

Daqui até 2035, o Gemte quer atender 70% dos municípios de Mato Grosso (o estado tem 142, ao todo), além de continuar o trabalho iniciado. Para isso, a meta é construir um fundo de R$ 30 milhões, que funcionaria com um sistema similar a um endowment. É aí que o leilão entra.

“Todo o dinheiro do leilão deve ser aplicado em um fundo, que vai investir numa aplicação de baixo risco, e só vamos usar parte dos juros para o bolo ir crescendo. A meta, em dez anos, é não precisar mais de mantenedor. Para isso temos o leilão, para criar mais sustentabilidade financeira”, explicou Scheffer.

Na noite de ontem (23) todo esse trabalho — e as metas — foram formalmente apresentados a alguns dos principais nomes do empresariado do agronegócio nacional. Fora do setor, o destaque óbvio foi a presença de André Esteves, fundador do BTG Pactual, no evento.

A diretoria do Gemte. Da esquerda para a direita: Juliano Bortoloto (da Todimo Home Center), Luiz Piccinin (da Áster Máquinas), Lorena Lacerda (do Grupo Valure), Guilherme Scheffer (Grupo Scheffer), Álvaro de Carvalho (da Soul Propaganda), Marcelo Cintra (do Peixoto e Cintra Advogados) e Marcos Cruz Júnior (do Grupo Canopus)

De olho em angariar fundos para a causa, o evento teve também um leilão de 14 experiências e itens — incluindo um almoço com o próprio Esteves, outro com Guilherme Benchimol (fundador da XP), uma raquete de Roger Federer, peças de arte e até um touro Nelore. Entre ingressos e os lances, foram levantados mais de R$ 15 milhões.

“Acho que esse evento é um bom exemplo de que nós podemos nos juntar para transformar o estado, principalmente na educação. Esse estado, o maior produtor de soja do Brasil, o maior de algodão, o maior rebanho bovino, o maior produtor de etanol de milho. É uma potência. Acho que ser o primeiro em educação também deveria ser uma meta para a gente”, afirmou Scheffer durante o evento.

“Assim como nós nos preocupamos se vai ter inflação, qual que é o câmbio, deveria ter conversa de bar também, sobre como é que vai ser a educação daqui a três anos. Deveria ser uma conversa comum que vai mudar o nosso estado e o nosso País”, completou.