Por que a Sumitomo deu 500 dias de prazo ao produtor rural gaúcho

Enquanto muitos players fecham a torneira do crédito rural, a japonesa Sumitomo Chemical – uma das maiores indústrias de defensivos agrícolas – defende uma estratégia complemente diferente. É preciso dar crédito e manter o produtor rural em atividade.

“Precisamos pensar no produtor, que é o cara dessa cadeia. Temos que remunerar todo mundo? A Paulista, a Faria Lima e Wall Street? Sim. Mas se não remunerarmos o produtor, ninguém tem o que comer, o que vestir e o que beber”, disparou Marcelo Gavazzi, gerente de Tesouraria e Risco da Sumitomo, em um painel no Agrolend Day, evento realizado em São Paulo.

Um exemplo emblemático dessa postura se dá no Rio Grande do Sul, onde os agricultores enfrentam quatro quebras de safra consecutivas, e sem uma perspectiva animadora para a temporada 2025/26 – ainda que mais fraca, a La Niña pode ser prejudicial à região.

A uma plateia formada por executivos de indústrias de insumos agrícolas, o executivo da Sumitomo reconheceu que não se trata de uma tarefa fácil. A inadimplência ainda é desconfortável, mas o papel da firma japonesa é contribuir para resolver a crise, e não a agravar. Mesmo que para isso seja necessário levar mais tempo para receber.

“Vou deixar de vender no Rio Grande do Sul? Não. Eles vão continuar plantando. Eu não quero sair de lá. Vamos investir lá. Então, preciso prorrogar essa conta e achar uma forma de todo mundo estar nesse negócio”, disse.

Para viabilizar a parceria com os produtores gaúchos, a Sumitomo está trabalhando com prazos de pagamento de praticamente duas safras. “Em vez de trabalhar com 210 dias, eu trabalho com 500 dias no Rio Grande do Sul”, contou Gavazzi.

Além dos prazos, o executivo defendeu uma abordagem mais generosa com o produtor no financiamento via barter. Gavazzi criticou os fornecedores de insumos que pensam no instrumento apenas como um mecanismo para se proteger de uma recuperação judicial, por ser um crédito extraconcursal.

“O barter não é importante porque é extraconcursal. É importante para que o produtor nem imagine que existe a RJ”, afirmou Gavazzi.

Na visão do executivo, trata-se de uma ferramenta relevante para que o produtor saiba fazer gestão de risco, travando os custos de produção. Com o barter, o produtor pode usar sua própria moeda (a commodity) para se proteger.

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No Brasil, os negócios agrícolas da Sumitomo faturam perto de US$ 1 bilhão. O grupo japonês também é dono da Agro Amazônia, conhecida no mercado por ser uma das redes de revendas mais bem tocadas do País.