Marino Franz, ex-prefeito de Lucas do Rio Verde e produtor
Marino Franz, um dos desbravadores de Lucas do Rio Verde, é ex-prefeito da cidade, produtor rural e acionista da Fiagril e da FS

LUCAS DO RIO VERDE (MT) – Um dos pioneiros a explorar as terras do norte do Mato Grosso, Marino Franz é desses personagens tão interessantes que cada conversa parece uma aula. Desde quando chegou ao Cerrado, ainda nos anos 1980, presenciou a fundação de Lucas do Rio Verde (MT), foi prefeito da cidade (depois vice), ajudou a trazer a fábrica da Sadia (hoje MBRF) para a cidade e fundou a Fiagril, o embrião do que viria a se tornar a FS.

“Eu sei exatamente o que o Mato Grosso pode ser, o que o Brasil pode ser, por causa da minha experiência de vida. Não é de ensino acadêmico, mas pelo que eu desenvolvi, pelo que fiz, vejo o que pode acontecer”, disse Franz em entrevista ao The AgriBiz, em seu escritório em Lucas do Rio Verde. Atualmente, Franz possui 12 mil hectares só na região.

Não é de hoje que Franz guarda essa habilidade. Em 2006, quando o Mato Grosso produzia 3,5 milhões de toneladas de milho safrinha, ele, como prefeito, vendeu à família Fontana, acionista da Sadia, a ideia de que o estado produziria 15 milhões de toneladas em 2015.

“Eles não acreditaram, eu pedi para virem aqui conhecer a região. Vieram e fizeram o maior projeto da América Latina em Lucas do Rio Verde”, lembra Franz.

Para montar a Fiagril, que nasceu como uma revenda de insumos e anos depois deu origem à FS, uma lógica similar. Depois de começar a estudar o negócio de etanol de milho, em 2012, Franz, no diálogo com os americanos do Summit Agricultural Group (maior acionista da FS), vendeu a ideia de que o estado produziria 50 milhões de toneladas de milho — em 2025, a produção do estado chegou a 55 milhões de toneladas.

Depois de prever o futuro, Franz, que continua como acionista da Fiagril e da FS, mantém a linha objetiva de raciocínio ao avaliar a evolução da região nos próximos anos, numa curva de aumento de produtividade e de conversão de áreas.

Fazenda de grãos de Marino Franz, em Lucas do Rio Verde, tem sistema de produção circular

“O Mato Grosso vai produzir, sem derrubar um hectare de terra e apenas recuperando áreas degradadas, 100 milhões de toneladas de milho em 2032”, diz.

Os cálculos levam em consideração os 18 milhões de hectares de pastagens degradadas em Mato Grosso, dos quais 10 milhões de hectares devem ser convertidos para a agricultura nos próximos 15 anos. Com isso, o estado pode quase dobrar a área agrícola — hoje, são 13 milhões de hectares cultivados.

A fazenda de Franz

A preocupação com o meio ambiente ficou evidente durante uma visita da reportagem à fazenda de Franz. Todo o sistema de produção em sua propriedade é circular: o adubo é gerado a partir dos dejetos dos animais, reduzindo a aplicação de químicos — o que também é possível graças a uma biofábrica instalada na fazenda.

Na próxima safra, o grupo de Franz planeja plantar quase 32 mil hectares de soja, 9,3 mil hectares de algodão e 21 mil hectares de milho. Além disso, os negócios ainda incluem confinamento e granjas de aves e suínos. Para referência, são comercializados, por ano, de 90 a 100 mil suínos por ano.

Em uma propriedade desse tamanho, o uso de água para os pivôs (principalmente na propriedade próxima a Lucas do Rio Verde, que tem mais de 12 mil hectares) vem também da separação da água que desce junto com os dejetos dos suínos. As fezes são usadas para a produção de biometano (e consequentemente de energia).

Além do cultivo de grãos e algodão, Franz planta eucalipto em uma pequena parte de suas propriedades (em torno de 500 hectares). O foco está em gerar lenha para os armazéns e, também, no fornecimento de biomassa para a FS.

Biomassa

Ao longo dos próximos anos, Franz vê uma demanda cada vez maior por esse tipo de matéria-prima. Na visão do empresário, é necessário desenvolver dois milhões de hectares de eucalipto no Brasil.

“O Mato Grosso, sozinho, precisa de 500 mil hectares de eucalipto. Hoje o estado deve ter uns 110 mil, 120 mil hectares. Só a FS tem 80 mil, né? Nós temos madeira plantada para a nossa necessidade. Mas temos uma visão bem aberta sobre o Brasil. Fui o primeiro cara plantar soja em Roraima e no Amapá”, diz.

O caminho para cultivar o eucalipto capaz de dar conta de tudo isso passa principalmente pelas empresas — e por fundos estrangeiros, na visão dele. Já a conversão de pastagens para agricultura, por ser um processo mais simples, exigindo basicamente máquinas e calcário, deve ser feita pelos próprios agricultores. O momento, no entanto, é pouco propício.

“Ninguém está fazendo investimentos novos em agricultura agora. A taxa de juros está muito cara e a rentabilidade diminuiu uns 40%, com a soja saindo de R$ 160 para R$ 100. Hoje, as indústrias de etanol trouxeram liquidez para o mercado de milho, ajudando o produtor a pagar as contas”, afirma.