Biocombustíveis

O mapa do etanol de milho cresceu — e vai expandir ainda mais

Com R$ 40 bilhões em investimentos previstos, usinas podem mais que dobrar e chegar a seis novos Estados, no embalo da expansão do milho em novas regiões

A região de Sorriso já produz mais etanol do que a de Ribeirão Preto, um dos mais tradicionais polos canavieiros do País. Impulsionado pelo boom do etanol de milho, o mapa brasileiro do etanol mudou — e tudo indica que é só o começo.

Nos próximos dez anos, o parque industrial do etanol de milho deve dobrar de tamanho, no embalo do crescimento na produção do cereal na segunda safra.

Das 24 usinas de etanol de milho em operação atualmente, dez estão no Mato Grosso e sete estão em Goiás. Entre as 38 programadas, 18 devem ser instaladas no maior produtor de grãos do País, segundo levantamento da Unem (União Nacional do Etanol de Milho).

Um dos projetos mais sonoros é a joint-venture anunciada pela Inpasa e pela Amaggi para construir três usinas de etanol de milho em Rondonópolis, Campo Novo do Parecis e Querência, no Mato Grosso. Cada uma terá capacidade de processar 2 milhões de toneladas por ano — o equivalente a 800 milhões de litros do biocombustível.

A FS vai investir R$ 2 bilhões em sua quarta unidade no Mato Grosso, em Campo Novo do Parecis, com capacidade anual de 540 milhões de litros de etanol e 935 mil toneladas de DDG.

O movimento inclui verticalizações. Em Sinop (MT), 31 famílias produtoras de milho se uniram na empresa Evermat para investir R$ 1 bilhão em uma usina que vai produzir 207,5 milhões de litros por ano, além de 134 mil toneladas de DDGs.

O restante do Centro-Oeste também está aquecido: Inpasa, São Martinho e Cargill Bioenergia têm projetos em Goiás. O Grupo Sada, conglomerado de logística e transporte de veículos, anunciou na última semana um investimento de R$ 1,1 bilhão em duas usinas “flex” de etanol de milho e de cana, em Montes Claros de Goiás (GO) e Jaíba (MG).

Novas fronteiras

O setor também começa a explorar novas fronteiras. Os anúncios de investimentos incluem estados ainda inexplorados, como Tocantins, Rondônia, Bahia, Piauí e Pará, segundo dados da Unem.

As plantas seguem a expansão da produção de milho, que tem chegado cada vez mais ao norte em razão da adoção de híbridos mais adaptados às condições de clima e de solo.

A Inpasa, por exemplo, inaugurou no início do mês a primeira indústria de etanol de milho e sorgo do Nordeste, em Balsas, no Maranhão. Com investimento de R$ 2,5 bilhões, a unidade terá capacidade para produzir 925 milhões de litros de etanol por ano e 490 mil toneladas de DDG — o governo estadual espera que o coproduto, usado na ração animal, favoreça a atração de frigoríficos.

Até no sul do País, onde o espaço para ampliar a área de milho é mais restrito, o momento do setor é pujante. No Paraná, duas novas fábricas podem tornar o estado um protagonista. O Grupo Potencial vai investir R$ 2 bilhões em uma usina em Lapa. E a cooperativa Coamo está injetando R$ 1,7 bilhão em uma usina em Campo Mourão, com capacidade de 765 mil litros por ano.

O Rio Grande do Sul, que sempre teve pouca oferta graças aos custos logísticos, vai ganhar a primeira usina em Passo Fundo, da Be8. “Como a região não tem condição para usar a cana, a nova fábrica vai processar cereais, como milho, trigo, triticale, arroz e sorgo”, explica Leandro Luiz Zat, vice-presidente de Operações da Be8.

Hoje, o estado importa 99% de seu etanol — a fábrica vai suprir 23% da necessidade, diz Zat. De tabela, além do DDG, a produção vai gerar glúten vital, suprindo 100% da demanda nacional pelo ingrediente e abrindo espaço para exportação.

R$ 40 bi em investimentos

Nessa toada, a produção de etanol de milho no Brasil deve se aproximar de 17 bilhões de litros em 2034, ante cerca de 10 bilhões de litros neste ano, segundo a Unem. A estimativa está conectada ao cronograma de mandatos de mistura obrigatória do etanol na gasolina, hoje em 15%.

“O volume de investimentos e a crescente produção viabilizam o aumento da mistura para 35%”, diz Guilherme Nolasco, presidente da Unem, sobre a meta já aprovada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis), mas ainda sem data para entrar em vigor.

O setor deve receber R$ 40 bilhões em investimentos na próxima década, de acordo com a associação. Se até 2020 o milho representava 8% da produção doméstica de etanol, hoje responde por 30%, e deve passar a 40% até 2030.