A Cocal inaugurou no último sábado (27) uma planta de biogás 100% voltada para o biometano em Paraguaçu Paulista, no oeste paulista. Com a nova unidade, a empresa, que já tinha desde 2021 uma unidade produzindo biometano em Narandiba, na mesma região, eleva sua capacidade de produção em até 60 mil metros cúbicos por dia durante a safra.
Isso significa um aumento de 7,5% sobre a capacidade total instalada no Brasil, de 800 mil metros cúbicos por dia, segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).
No papel, segundo a Abiogás, o potencial de produção de biometano no Brasil é de 102 milhões de m³/dia — a entidade projeta que o País chegue a 8 milhões de m³/dia até 2032.
Já a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima que o Brasil venha a ser o quinto maior produtor de gás renovável em cinco anos, respondendo por mais de 10% do fornecimento global de biometano já em 2026.
Isso representa uma oportunidade para o agronegócio, permitindo gerar receitas a partir de resíduos — e conferindo à produção um componente de sustentabilidade.
As duas plantas utilizam tecnologia nacional na produção do biogás, em uma parceria com a empresa paulista Geo Bio Gas&Carbon.
O capex na nova unidade foi de R$ 216 milhões, com 100% dos recursos financiados pelo Fundo Clima, do BNDES. A Cocal não informa em quanto tempo projeta que o investimento se pague.
Oportunidade circular para zerar resíduos
Com a inauguração, a empresa espera substituir 2 milhões de litros de diesel até o fim da safra 2025/26, alimentando uma frota de 60 equipamentos nas duas fábricas, entre caminhões, tratores e veículos leves.
Falando a jornalistas nesta segunda-feira (29), André Gustavo Alves da Silva, diretor de operações e desenvolvimento de negócios, exaltou a circularidade do “ecossistema Cocal” e sua capacidade de imprimir uma política de zero resíduos na operação de cana.
As principais fontes para o biometano são os resíduos das cadeias sucroenergética e de criação de animais. Hoje, 56% da produção do biogás vêm do açúcar e do etanol, e 38% vêm da pecuária.
No primeiro caso, a principal fonte é a decomposição da vinhaça, da torta de filtro e da palha. E, no segundo, é o esterco de animais criados em confinamento, em especial suínos e aves. Os outros 6% vêm do processamento de biogás em aterros sanitários.
“A cana é uma fruta com potencial energético enorme, da qual 65% viram açúcar, etanol e energia elétrica. Do etanol, se produz creme de levedura e CO2 ‘food grade’, para ser usado em bebidas. E os três subprodutos da cana — vinhaça, torta e palha — são usados para criar biometano”, afirmou Silva.
Segundo ele, além de abastecer a frota interna, será possível oferecer excedentes para parceiros no conceito ‘over the fence’, trocando matéria-prima pelo biometano.
A Granja Shida, por exemplo, vai fornecer esterco e efluente residual de aves para produzir o biocombustível. Em troca, a Cocal vai devolver energia elétrica e biometano para abastecer 100% da operação da granja, como nos aquecedores das aves e na iluminação.
Com a Lesaffre Brasil, a parceria é similar: a fabricante de fermentos biológicos entregará resíduos orgânicos de sua produção e, em troca, receberá biometano e energia elétrica para dar conta de sua atividade industrial.
Também há duas interações em desenvolvimento com a distribuidora de gás natural Necta, ambas por meio de gasodutos.
A outra metade da produção de biometano da Cocal será comercializada com parceiros via dutos ou caminhões — as negociações estão em andamento.
Pode ser assim com a Copersucar. Em um acordo encaminhado, a gigante sucroenergética vai fornecer os subprodutos da cana, e a Cocal vai abastecer com biometano 65 caminhões que farão o transporte de açúcar das empresas para o Porto de Santos.
A Cocal também fez uma oferta de biometano na chamada pública que a Petrobras realizou no início do ano para se preparar para o novo marco regulatório — pela Lei do Combustível do Futuro, produtores e importadores de gás natural devem cortar suas emissões em 1% em 2026 com biometano, ampliando o percentual ano a ano.
E a empresa vem estudando ampliar as fontes de matérias-primas para o biometano. “Pretendemos expandir para outros coprodutos, como esterco bovino e resíduos sólidos urbanos e industriais”, comentou Silva.
Economia no bolso e no clima
Na divulgação da nova fábrica, a Cocal ressaltou o componente de sustentabilidade na substituição de combustíveis fósseis por biometano.
Apenas na substituição do diesel pelo biometano na frota interna, a empresa estima uma redução de 95% nas emissões de gases de efeito estufa.
Mas a empresa não deixou de lado as métricas econômicas: a migração do diesel para o biometano deve gerar uma economia de 30% do custo, diz Silva.
De volta ao ESG, ele estima que os processos de circularidade e aproveitamento de resíduos já equivalham a deixar de derrubar 1,8 mil hectares de vegetação nativa por ano.
Com isso, diz o diretor da Cocal, o biometano produzido pela empresa terá pegada de carbono mais baixa que a do biocombustível fabricado na Europa — 87,4 gramas de CO2 por megajoule de biometano aqui, versus 94 gramas, na média dos países europeus.