
A entrada do BTG Pactual e da gestora Perfin como sócios da Cosan ao lado da Aguassanta, o family office de Rubens Ometto, prevê um plano de sucessão do controlador em um prazo estimado em seis anos.
Além disso, a operação — que prevê a injeção de R$ 10 bilhões no novo consórcio, em duas fases — deve munir a companhia de tempo e fôlego para dar seguimento ao plano de vendas de ativos “com calma”, aproveitando as melhores condições de mercado.
Os detalhes sobre o acordo anunciado ontem foram apresentados na manhã desta segunda-feira (22) pelo CEO da Cosan, Marcelo Martins, e pelo CFO Rodrigo Araújo.
Segundo Martins, os principais objetivos da medida são reduzir a alavancagem da Cosan para níveis “saudáveis” e “endereçar a sucessão do acionista controlador” — uma preocupação do próprio fundador.
“O próprio Rubens sabe que precisamos construir um modelo de perenidade. Por isso, colocamos condições importantes para uma sucessão organizada e estruturada no tempo, como o lock up de quatro anos”, afirmou Martins a analistas, referindo-se ao prazo durante o qual os novos sócios não podem se desfazer de suas posições acionárias.
No total, a operação prevê um acordo de 20 anos.
Martins detalhou ainda que a manutenção de Ometto — ou de alguém indicado por ele — como chairman por mais três mandatos de dois anos cada um, totalizando seis anos, “foi uma condição respeitada pelos acionistas que vão contribuir com aumento de capital”.
“Durante os seis anos iniciais, não deve haver mudança na estrutura. A partir daí, abre-se a possibilidade de fazer uma transição estruturada na sucessão do acionista controlador”, disse.
Para refletir esse acordo, Ometto terá 50,01% do bloco de controle. Após esse período de até seis anos, o BTG Pactual e a Perfin podem atrelar mais papeis da Cosan ao acordo que determina a composição do bloco, potencialmente alterando o controle da companhia.
Venda de ativos continua, mas “sem pressa”
Na teleconferência com analistas, a liderança da Cosan reforçou que o acordo com o BTG Pactual e a Perfin é apenas um capítulo dentro da jornada de desalavancagem que prossegue.
Questionado por Gabriel Barra, do Citi, sobre como fica o senso de urgência diante da injeção de capital, Martins disse que os agora sócios da Cosan têm um “forte alinhamento” sobre a manutenção da estratégia de desinvestimento para dividir o endividamento que passa de R$ 21,5 bilhões.
O acordo vai diminuir esse passivo em 65%, diz Martins, para aproximadamente R$ 7,5 bilhões. E, com isso, o processo de reestruturação do portfólio vai correr de forma mais eficiente daqui para frente, disse o CEO.
“O modelo de desinvestimento, que passa por simplificar a estrutura da holding, está muito alinhado entre os sócios. Uma coisa é desinvestir quando precisa, outra é fazer isso quando acha as condições adequadas. A gente não perde o senso de urgência, mas ganhamos um fôlego grande para observar as melhores condições de mercado e avaliar quais oportunidades são mais atrativas em termos de criação de valor.”
Em outras palavras, concluiu Martins, “Agora podemos vender ativos com preço adequado, na hora certa, para quem faça sentido vender, reduzindo o endividamento a zero ou próximo disso, e preservando nossa capacidade de crescer”.
Sem aporte na Raízen
Martins e Araújo reiteraram que a companhia não vai participar do anunciado aumento de capital na Raízen.
“Ressaltamos que não há previsão de injeção de capital na Raízen, o foco é todo na Cosan. A companhia entra em um processo de disciplina na alocação de capital e segue a jornada de simplificação. O crescimento não incluirá novas verticais e se dará pelo portfólio existente, mas com estrutura de capital mais saudável”, afirmou Martins.
Segundo ele, o acordo de acionistas previu um capítulo específico sobre a Raízen que prevê que a gestão e o dia a ida “continuam muito focados na Aguassanta”. E prossegue a busca por um novo sócio. “Isso não mudou. Nosso esforço de atrair segue como vinha sendo feito, nada diferente.”
Araújo pontuou que o mercado já emitiu sinais de aprovação ao acordo, como mostra a recuperação do desempenho das ações da Cosan há algumas semanas, “conforme a imprensa começou a especular a entrada de potenciais sócios”.
Nesta segunda-feira, os papéis da holding passam por uma forte reprecificação na Bolsa. Por volta das 12h, caíam 22%, para R$ 5,84, buscando o preço da emissão anunciada ontem à noite, de R$ 5 por ação. Em 12 meses, as ações da Cosan caem 53%.
Os papéis da Raízen também têm forte queda nesta segunda, de 9%. A queda acumulada em um ano é de 63%. Já as ações da Rumo, empresa de logística do grupo, operam perto da estabilidade.