CRA do Café

Na alta do café, cooperativas despertam apetite de investidores

Cooxupé e Expocacer levantaram R$ 875 milhões em CRAs neste ano, refletindo a alta procura por emissores qualificados em papéis isentos

Plantação de café

A combinação de preço recorde no café e de spreads baixos para emissões de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) trouxe ânimo para as principais cooperativas do setor acessarem o mercado de capitais. Na soma, Cooxupé e Expocacer levantaram, só neste ano, R$ 875 milhões com os títulos.

A maior cooperativa de café do Brasil carrega a maior parte desse montante. Foram R$ 625 milhões, na terceira emissão realizada por eles, coordenada pelo Safra e que teve o Santos Neto como assessor jurídico. A sede pelos CRAs da cooperativa possibilitou captar todo o lote adicional, de R$ 125 milhões.

A captação foi dividida em quatro séries: a primeira remunera a 14,42% ao ano. A maior, que captou R$ 302 milhões, remunera a 107,5% do CDI. A terceira série remunera a variação cambial mais 5,8%. Todas elas vencem em 2030, à exceção da quarta série, que vence em 2032 e paga CDI+1,1% ao ano.

Essa é a maior operação de CRAs feita pela Cooxupé desde que começou a testar as águas do mercado de capitais, em 2021. A cooperativa estreou no mercado com uma captação de R$ 150 milhões e, em 2024, levantou outros R$ 450 milhões da mesma forma.

“A primeira emissão foi um teste para colocar o nome da Cooxupé para rodar. Ao longo do tempo, fomos conseguindo taxas melhores, o mercado passou a ter mais confiança, viu que as operações liquidavam normalmente”, afirma Mônica Lis da Silva, gerente de captações e mercado futuro da cooperativa, ao The AgriBiz.

Na emissão mais recente, a Cooxupé conseguiu um patamar de juros menor do que o da anterior, pontua Lis da Silva. “A gente tem um aprendizado, nosso nome vai ficando mais robusto.”

Os recursos são usados principalmente para o capital de giro da cooperativa, além de iniciativas de liability management, com a Cooxupé substituindo dívidas mais caras por outras mais baratas e de prazos mais atrativos.

Os percentuais e prazos exatos não são públicos. A Cooxupé, maior cooperativa mineira e uma das maiores do Brasil, faturou R$ 10,7 bilhões em 2024, uma alta anual de 67%.

O ânimo para crescer com o apoio do mercado de capitais segue vivo. Silva não descarta um mergulho mais profundo nesse universo, se aproximando de Fiagros e FDICs. “Estamos sempre olhando, e os bancos estão sempre nos provocando. Não descartamos nenhuma possibilidade”, diz.

Tem espaço para mais gente

Não é só a Cooxupé que cabe no apetite de investidores em relação ao café. A Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), com seus 760 cafeicultores — menos da metade da Cooxupé — também encontrou seu lugar ao sol.

No final de agosto, a cooperativa protocolou na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) os documentos para uma captação de R$ 250 milhões, também em CRAs. É a segunda vez que a cooperativa acessa o mercado de capitais dessa forma: antes, em 2022, captou R$ 100 milhões.

A emissão será feita em uma única tranche, com um spread de 3% sobre o CDI e amortizações anuais a partir de 2028 — os títulos têm vencimento em novembro de 2030. A oferta é coordenada pela StoneX.

No prospecto, há a indicação de que o dinheiro também deve ser usado para capital de giro. “Os recursos serão destinados integralmente às atividades de produção e comercialização de café”, afirma a cooperativa no documento.

De olho no futuro

Especialistas veem o reforço de caixa como um passo importante para financiar o setor, em meio à alta dos preços dos grãos e ao tarifaço de Donald Trump.

“São boas instituições, com rating bom e risco baixo. Além disso, o produtor não vive só de crédito das instituições financeiras ou de barter. Há um déficit de R$ 50 bilhões por ano de funding no café. Por isso, as cooperativas estão ampliando as operações, com mais qualidade na formalização”, diz Gustavo Foz, fundador da fintech Culttivo.

De olho no futuro, há quem pondere um aumento de oferta do café para a próxima safra, refletindo um clima mais benigno do que o dos últimos anos.

“O nível de umidade do solo está melhor do que no ano passado, e tem previsão de chuva a partir do dia 22”, pontua Fernando Maximiliano, gerente de inteligência de mercado de café da StoneX. “As próximas seis semanas serão decisivas.”