
“As perspectivas para a agricultura brasileira em 2025/26 são mais frágeis do que muitos pensam, na nossa opinião” É assim que a equipe liderada por Júlia Rizzo, do Morgan Stanley, abre um extenso relatório a respeito do agronegócio brasileiro enviado a clientes nesta semana.
Na contramão do consenso, o time de 15 analistas acredita que o Brasil não deve expandir a área dedicada à produção da oleaginosa na safra 2025/26. No limite, eles veem um aumento de até 0,5% em área na safra que está começando. A maioria dos analistas que acompanha o mercado é mais otimista, com uma expectativa de um incremento de 1,5% a 2% na área — o que seria um aumento similar ao visto na safra 2024/25.
As razões para as projeções mais pessimistas estão ligadas a fatores que, historicamente, formaram uma conjuntura para raros períodos de pouca (ou nenhuma) expansão de área: margens apertadas, preços baixos de commodities, custos em alta e um real mais apreciado do que o esperado inicialmente.
Também pesa nessa conta a escassez de crédito, cujo custo também segue em patamares elevados. Desde 2020, o crédito ao agronegócio no Brasil mais do que dobrou, para R$ 740 bilhões, apoiado em taxas de juros em queda e alta no preço de commodities. Considerando também as operações de barter, essa conta chega a R$ 1,2 trilhão.
“Em ciclos anteriores, o governo entrou com programas de rolagem de dívidas e novas linhas subsidiadas. Alguns sinais disso começaram a aparecer com a nova MP, mas nós acreditamos que a medida veio muito tarde e não deve reverter o aperto financeiro de produtores”, pontuam os analistas.
Queda nos estoques
Nessa tempestade perfeita, “o risco de uma frustração na produção brasileira parece ser maior do que o consenso espera”. Caso a safra no Brasil, maior produtor mundial, tenha um desempenho minimamente inferior ao projetado, isso pode formar as bases para uma retomada de preços da soja até o final de 2026.
“A oferta de soja parece mais restrita do que o consenso espera, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. O resultado é que projetamos um estoque de soja abaixo das médias históricas, com o mercado se movendo em direção a um déficit”, explicam os analistas.
O banco aumentou as projeções do preço da soja para US$ 11,7 por bushel (a estimativa anterior era de US$ 10,50) e de US$ 4,70 por bushel para o milho, ante uma perspectiva anterior de até US$ 4,50 — nesse caso, acima dos preços spot e contratos futuros.
O impacto nas empresas
Caso o cenário de uma oferta e demanda global mais ajustada se confirme, as analistas Julia Rizzo e Julia Habermann veem um impacto positivo em players com exposição direta ao preço de commodities, como a SLC Agrícola.
O ponto é a demora para esse resultado chegar ao balanço. “Nós acreditamos que a ação não deve superar o desempenho do mercado antes do fim de 2026”, frisam as analistas. Por isso, a dupla rebaixou a recomendação para as ações da SLC de “compra” para “neutro”, além de cortar estimativas de margens, refletindo um real mais apreciado.
Para empresas que dependem do volume de grãos transportados, como a Rumo, a visão de um horizonte mais desafiador também permanece. As analistas cortaram a projeção de Ebitda para a companhia em 3%, para R$ 8,4 bilhões, e o lucro líquido em 5%, para US$ 2 bilhões (13% abaixo do consenso).
“Apesar do sell-off e de um valuation atrativo, nós acreditamos que o valuation, sozinho, não é suficiente para ser um catalisador de decisões de compra. A relação risco-retorno continua pressionada até que a visibilidade sobre a companhia melhore”, afirmam.
Em 12 meses, as ações da Rumo (RAIL3) acumulam queda de 25%, enquanto os papéis da SLC (SLCE3) sobem 1,5%.