Custos em alta

Do Brasil aos EUA, agricultores terão queda nas margens, diz Rabobank

“De forma geral, a safra 2026 deve ser mais cara em todas as regiões, resultando em desafios adicionais aos produtores”, segundo estudo inédito do Rabobank

Agricultores terão queda nas margens, diz Rabobank

As margens dos produtores agrícolas continuarão pressionadas até meados de 2027 — e não apenas no Brasil. Segundo um novo estudo do Rabobank, a situação financeira dos agricultores continuará apertada nos três maiores produtores mundiais de soja, grupo que, além do Brasil, inclui os Estados Unidos e a Argentina.

Além dos baixos preços das commodities, fator que já prejudicou a rentabilidade na safra passada, em 2025/26 as margens serão mais comprimidas por um aumento nos custos de produção e pelo aumento das incertezas provocado pelas tensões geopolíticas e pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos.

“Por motivos diferentes, cada país viverá um ano de margens mais apertadas”, disse Bruno Fonseca, analista do Rabobank no Brasil que liderou o estudo inédito do banco sobre as margens dos produtores, ao The AgriBiz.

Em comum, os agricultores enfrentam uma alta nos preços dos fertilizantes, especialmente os fosfatados, que passam por uma restrição de oferta.

No Brasil, por exemplo, estima-se que os gastos com nutrientes vão aumentar cerca de 10% na safra que começa a ser plantada. Mas isso está longe de ser uma exclusividade: a relação de troca no fosfato nos Estados Unidos é a menor desde 2010, enquanto o preço médio dos fertilizantes subiu 21% na Austrália em 2025/26, segundo o Rabobank.

No caso dos defensivos, o preço dos principais ingredientes ativos fornecidos pela China apresenta sinais de queda em relação ao ano passado, mas o custo por hectare no Brasil e nos EUA está crescendo, especialmente em categorias específicas, como inseticidas.

“De forma geral, a safra 2026 deve ser mais cara em todas as regiões, resultando em desafios adicionais aos produtores”, resumiu a equipe de analistas do Rabobank.

Considerando apenas o custeio, o Rabobank estima que a margem operacional da produção de soja no Brasil cairá de 38%, em 2025, para 24% no próximo ano. No caso dos Estados Unidos, a margem da soja é estimada em 13% para a nova safra, ante 15% em 2025.

Na Argentina, a rentabilidade na soja pode ter uma leve melhora, de 6% para 8%, mas ainda extremamente baixa. No caso do milho, a expectativa é de uma queda na margem de 29% para 26%, mas a vantagem sobre a soja continuará elevada.

Leia, a seguir, quais são os outros fatores que impactarão as margens nos principais produtores, segundo o Rabobank:

Brasil

Apesar de o aumento da produtividade e da taxa de câmbio favorável na safra 2024/25, os produtores continuam alavancados — e o encargo do endividamento, em meio a elevadas taxas de juros, continua consumindo uma parte relevante da receita. Para o Rabobank, os agricultores vão conseguir resolver os seus problemas financeiros em meados de 2027. Até lá, a área plantada deve crescer a um menor ritmo em relação aos anos anteriores. Para 2025/26, a estimativa do banco é de uma expansão de 1,5%.

EUA

As tarifas de Donald Trump são um problema adicional. “Mantida a política atual de tarifas, deveremos ver dificuldades nas compras de insumos vindos de fora para a próxima safra”, diz Fonseca. Sem falar na dificuldade nas exportações, principalmente de soja, já que a tarifa aplicada pela China acaba com a competitividade da oleaginosa norte-americana em comparação com a brasileira.

Com a margem operacional da soja estimada em 13% e a do milho em 7% para 2026, é possível que, ao considerar os custos totais, os produtores norte-americanos enfrentem margens negativas no próximo ano. “Nesse contexto, os agricultores dos EUA vão depender de subsídios do governo para honrar as suas obrigações financeiras”, segundo o Rabobank.

Argentina

A combinação de problemas climáticos e taxação das exportações tem afetado a rentabilidade dos produtores argentinos. Para se ter uma ideia do impacto, cerca de 65% da receita bruta com as vendas de soja foram absorvidas por impostos na safra 2023/24, segundo um levantamento da Fundação Agrícola para o Desenvolvimento da Argentina (FADA).

Recentemente, o governo reduziu as tarifas de exportação para 26% para a soja e 9,5% para o milho. Mas as margens devem continuar extremamente baixas, “o que sugere que os argentinos precisarão de mais tempo para se recuperar desses desafios”.