A AgriConnection, uma rara vencedora da crise que chacoalhou a indústria de insumos agrícolas nos últimos anos, acaba de fechar a primeira aquisição da história da companhia, pavimentando o caminho para acelerar.
Em uma transação que começou a ser costurada há um ano, a AgriConnection acertou a compra de 96 registros de defensivos agrícolas que pertenciam à Nutrien no Brasil, apurou The AgriBiz.
Em um comunicado discreto publicado em seu perfil no LinkedIn, a AgriConnection informou apenas que comprou “ativos regulatórios e registros de produtos fitossanitários”, sem detalhar o nome do vendedor. O contrato foi assinado na semana passada, de acordo com duas fontes que relevaram a transação com a Nutrien.
Em meio à profunda reestruturação que deflagrou no Brasil, a gigante canadense decidiu se desfazer também do portfólio de registros de defensivos que possuía desde 2020, quando comprou os ativos da BRA Agroquímica — uma companhia sediada em Piracicaba, no interior paulista.
Para a AgriConnection, os registros dão liberdade para a companhia acelerar as operações de importação de defensivos agrícolas da China e revendê-los com marca própria.
Até então, a companhia fundada por Flávio Mata, Evaldo Pereira Junior e Daniel Dias — todos com passagens por gigantes de defensivos, como Bayer, Corteva, Dow e BASF — se utilizava dos registros de parceiros para fazer a importação.
Fundada em 2020, a AgriConnection começou a atuar inicialmente como representante de vendas de companhias como CropChem e Indofil, lembrou Daniel Dias, cofundador da companhia, em entrevista ao The AgriBiz.
A companhia se valia dos contatos comerciais e da reputação dos fundadores para fechar contratos com fornecedores de defensivos genéticos na China e encontrar compradores no Brasil — produtores rurais, revendas e cooperativas.
Com esse modelo de representação, baseado em um modelo de comissão que variava entre 3% e 4%, a AgriConnection começou a ganhar mercado no Cerrado, colhendo as vantagens de preços ao reduzir o número de intermediários do processo de importação.
Em comparação às gigantes de agroquímicos, a AgriConnection também demonstrou possuir vantagens, notadamente no S&GA — o peso das despesas com vendas, gerais e administrativas, é muito menor.
Com esses atrativos, cresceu rapidamente, atingindo US$ 120 milhões em importações ainda no segundo ano de operação.
Foi a partir daí que a companhia entendeu que poderia importar diretamente os produtos, deixando de ser apenas uma representante de vendas.
Em 2022, a AgriConnection deslanchou com esse modelo, tendo parceiros como o Agrícola Alvorada — rede de revendas de Primavera do Leste (MT) que possui a Bunge entre as sócias.
US$ 300 milhões por ano
Atualmente, a companhia transaciona cerca de US$ 300 milhões por ano, sendo 50% em representação e o restante na operação de importação e venda de defensivos agrícolas no Brasil.
Com a aquisição dos registros, a AgriConnection vai ampliar a fatia da receita oriunda da operação de importação, mirando os 80%. A expectativa é se aproximar de R$ 2 bilhões em receita.
Na Faria Lima, o modelo de negócios da companhia chamou a atenção. Recentemente, Flávio Mata foi um dos painelistas de um evento sobre agronegócios promovido pela XP.
A atratividade de AgriConnection se explica pelo balanço controlado. Enquanto muitas indústrias ainda sofrem com a inadimplência, a AgriConnection mantém uma taxa de perdas muita baixa (menos de 0,2% do faturamento), segundo Dias.
“Temos 12 pessoas na área de crédito, sendo 10 no campo. Nossa abordagem é construir o crédito, e não simplesmente aprovar documentos”, ressaltou Dias, comparando a política de crédito da AgriConnection ao modelo tradicional das multinacionais.
Para financiar o capital de giro, a companhia conta com linhas em moeda estrangeira fornecidas por instituições como o Banco do Brasil e companhias como a belga GlobaChem. A AgriConnection também possui um FIDC de mais de R$ 120 milhões gerido pelo Fator.
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A aquisição dos registros da Nutrien pela AgriConnection ainda depende da aprovação do Cade.