Em um período de crédito bancário escasso para o agronegócio, o uso dos FIDCs vem ganhando mais visibilidade, atraindo até mesmo quem nunca havia despertado para essa modalidade de financiamento. Uma delas é a Eurochem, empresa de fertilizantes que captou recentemente R$ 450 milhões.
Com o dinheiro, a multinacional vai financiar a compra de fertilizantes de parte dos clientes da Eurochem — principalmente produtores rurais — reduzindo a dependência de outras estruturas de funding.
O fundo é ancorado pela Kinea, com recursos tanto do fiagro listado da gestora (o KNCA11) quanto de outros fundos da casa.
“Nós sempre buscamos players robustos, com estruturas customizadas e que agreguem valor. Os clientes da Eurochem conseguem acesso a crédito, a empresa amplia as vendas com funding competitivo e os investidores conseguem exposição a uma operação de ótimo nível de crédito”, explica Felipe Greco, gestor de agro da Kinea, gestora que ancora o fundo.
A originação e estruturação do FIDC foi feita pela Integral Investimentos. Na estrutura montada, a Eurochem vende parte de seu contas a receber, com ênfase em recebíveis de produtor rural — mas incluindo também cooperativas e revendas.
Não se trata, entretanto, de uma venda automática: a gestão vai selecionar os recebíveis a serem incorporados ao fundo por meio de uma série de critérios, incluindo evitar concentração geográfica e de devedor.
O fundo tem um prazo de 36 meses contados a partir da data da emissão (junho deste ano), com o plano de ter recebíveis sendo revolvidos a cada safra.
Por enquanto, foram integralizados R$ 120 milhões. “A gente deve concluir isso ao longo dos próximos dois meses, em que entra o maior volume de direitos creditórios em função da safra”, explica Cristiano Greve, sócio da Integral Investimentos. O fundo tem, ao todo, seis meses para integralizar o montante captado.
Como é praxe nesse tipo de estrutura, o FIDC tem cotas sênior e subordinadas. A cota sênior foi integralmente subscrita pela Kinea e tem uma remuneração de CDI+2,75% ao ano.
Por enquanto, a gestora aportou R$ 30 milhões no fundo, recursos oriundos tanto de seus fiagros quanto de outras estruturas de crédito da casa. O montante pode crescer ao longo do tempo, dependendo do apetite e do comportamento do FIDC.
“Um dos pontos que despertou interesse foi a estrutura bastante robusta do ponto de vista de risco, com a pulverização da carteira, e o alinhamento de interesses com o sponsor da operação”, afirma Greco.
O alinhamento a que o gestor se refere está na cota subordinada do fundo, totalmente subscrita pela própria Eurochem. Mesmo sendo um movimento relativamente comum no mercado, é visto como uma boa prática — um reforço de confiança por parte do próprio tomador, já que é ele quem vai absorver eventuais perdas do fundo.
O FIDC tem uma subordinação de 25%. “A gente montou uma estrutura de tal maneira que o nível de subordinação do fundo, na nossa análise, é mais do que suficiente para absorver qualquer perda esperada”, frisa Greve.