Balanço

Raízen prepara aumento de capital; ações desabam 13%

Embora necessária e bem recebida pelos analistas, a capitalização tem um potencial de diluição, o que ajuda a explicar a reação do investidor

Raízen

Diante de uma dívida colossal, a Raízen vai precisar ir além da venda de ativos para reduzir o endividamento a um nível capaz de ser absorvido pela geração de caixa. Pela primeira vez desde que a crise se instalou, a empresa controlada por Cosan e Shell admitiu que deve fazer um aumento de capital.

Embora necessária e bem recebida pelos analistas, a capitalização tem um potencial de diluição, o que ajuda a explicar a reação dos investidores na bolsa. Por volta das 12h, as ações da Raízen caíam mais de 13%, a maior queda do Ibovespa. A Cosan, por sua vez, cai mais de 5%, o segundo pior desempenho do índice.

A realização do aumento de capital ainda não está totalmente definida, mas parece um caminho natural. Ontem à noite, a Raízen aproveitou a divulgação do balanço, que trouxe um prejuízo de R$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre da safra 2025/26, para anunciar que está analisando “um aporte de capital que poderá envolver os atuais ou novos acionistas”.

“O que existe é uma conversa ativa envolvendo os dois controladores. É um plano com clareza e alto grau de confiança de sucesso. Mas nesse momento não tenho detalhes nem certeza”, disse Rafael Bergman, CFO da Raízen, nesta quinta-feira (14) em call para analistas.

A opção de recorrer a um aumento de capital acontece em meio a uma explosão da dívida líquida, que chegou a R$ 49,2 bilhões no primeiro trimestre, um aumento de 56% na comparação anual.

“Com um custo de dívida líquida R$ 6,2 bilhões, em base anual, a Raízen precisa acelerar o processo de desalavancagem. Ajustar o capex, reduzir a operação de trading e desinvestir em ativos não essenciais são medidas positivas, mas não devem ser suficientes”, disseram os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual, que receberam bem a possibilidade de aumento de capital.

A alavancagem da companhia chegou a 4,5 vezes no fim de junho, ante 2,3 vezes um ano antes. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, a alavancagem aumentou em 1,2 ponto percentual — grande parte devido à substituição de R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro por outros instrumentos de dívida com menor custo financeiro e que resultaram em um prazo mais longo de endividamento.

Apesar da queda de 23% no Ebitda ajustado, os analistas do BTG destacaram que o indicador veio 6% acima do esperado pelo banco, beneficiado pelo controle de capex e despesas e a diminuição dos riscos financeiros de negociação.

“Observamos uma melhora bem-vinda em gestão de risco na área de trading, com melhores preços de açúcar (+5% em relação ao mesmo período de 2024) e redução de 19% nas despesas. A moagem de cana parece estar ganhando ritmo no 2T26, e a continuação da otimização do portfólio de usinas também deve melhorar as margens”, completaram.

Apesar do início de safra lento, a Raízen manteve o guidance para moagem de cana no ano-safra. Segundo Phillipe Casale, diretor de relações com investidores, a conta apresentada no início do ano “já trazia implícita a queda na qualidade da cana, dado o cenário de entressafra menos chuvosa que o histórico”.

Segundo o executivo, agora a Raízen mira “o ponto médio para baixo do guidance, dados os desafios”. A companhia espera um aumento nos preços do açúcar e do etanol para fortalecer a receita futura.

As vendas continuam

Enquanto ainda prepara o aumento de capital, a jornada de desinvestimentos deve prosseguir. No último ano, a Raízen vendeu quase R$ 3 bilhões em ativos, incluindo a venda de uma usina em Leme e a desativação da histórica Santa Elisa, além de ativos de geração distribuída. Mas esses recursos só vão entrar no caixa nos próximos trimestres.

“Os ativos que a gente desinvestiu e segue avaliando para potencial desinvestimento têm menos sinergia com o portfólio remanescente. É algo sobre o qual teremos novidades nos próximos trimestres”, disse Bergman.

Segundo ele, o objetivo é tornar o negócio de EAB (etanol, açúcar e bioenergia) mais eficiente. “Uma usina pode não ser mais rentável para nós em função da localização, mas pode ser para terceiros. Não preciso de 27 usinas para ter uma presença relevante no mercado. Uma escala um pouco menor ainda será gigante.”