Trump

Pelo menos 40% das exportações do Brasil ficaram livres do tarifaço

Entre os dez maiores itens da pauta de exportação do Brasil aos Estados Unidos, apenas café e carne bovina foram sobretaxados

A ampla lista de exceções ao tarifaço de Donald Trump abrange pelo menos 40% da pauta de exportações do Brasil aos Estados Unidos, um alívio inesperado diante da beligerância política.

No agro, o suco de laranja foi o grande beneficiado. Mas, em receita, o item mais relevante para a pauta é o petróleo bruto, que responde por quase 12% das exportações aos Estados Unidos. Os produtos semiacabados de ferro ou aço aparecem na sequência, com 9,7%. Todos entraram na lista de exceções divulgada no início desta tarde.

Aeronaves (5,2%), ferro gusa (4,3%), óleos combustíveis (4,1%), sucos (3,7%) e celulose (3,6%) também ficaram de fora da tarifa de 50%.

Entre os principais produtos da pauta, café e carne bovina são os maiores prejudicados. Ambos constam na lista dos dez produtos mais exportadores pelo Brasil, mas não tiveram a mesma sorte dos demais e serão taxados em 40% a partir de 6 de agosto.

De todos, o café parece ser o mais afetado. A commodity figura como o terceiro maior item da pauta de exportações do Brasil dos Estados Unidos, só atrás de petróleo cru e produtos semiacabados de ferro ou aço. Entre janeiro e junho, o café foi responsável por 5,8% da receita de exportações aos americanos.

Também taxada, a carne bovina representa 4% das exportações brasileiras aos Estados Unidos. Com a tarifa de 40%, os frigoríficos terão imensas dificuldades para acessar o mercado americana de forma competitiva.

Neste momento, os diversos exportadores estão fazendo contas. Entre frigoríficos, há quem diga que a tarifa adicional de 40% ainda deixa uma margem para tornar a exportação competitiva tamanha a diferença de preços entre o produto brasileiro e o americano.

Esperança no café

No caso do café, ainda há quem alimente esperança de que uma negociação nos próximos dias possa incluir a commodity no rol de exceções. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) lembrou que a data de início das tarifas foi adiada de 1º para 6 de agosto, alimentando expectativas de continuidade nas negociações.

“Em uma mesa de negociação, todo tempo ganho é válido. A lista de exceções nos sinaliza espaço para caminhos de negociação”, afirmou a Abic em nota. O Cecafé, que representa os exportadores, também divulgou nota informando que “seguirá em tratativas com seus pares dos EUA, como a National Coffee Association (NCA), com o intuito de que o produto passe a integrar a lista de exceções elaborada pelo governo americano”.

A entidade afirma que na relação comercial cafeeira, “as nações são imprescindíveis uma à outra” — um terço (34%) do café consumido nos EUA é do Brasil, e 16% das exportações brasileiras vão para os americanos. 

O texto defende ainda que a taxação do produto brasileiro pode gerar inflação e danos à economia dos EUA, na medida em que, segundo um estudo da NCA, o setor de café emprega 2,2 milhões de pessoas e movimenta US$ 343 bilhões por ano, o equivalente a 1,2% do PIB americano.

Ontem, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, citou o café como potencial exceção em uma entrevista à CNBC.

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Os dados da participação de cada item nas exportações aos Estados Unidos foram retirados dos dados estatísticos do MIDC (Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior).

No primeiro semestre, o Brasil exportou o equivalente a US$ 20 bilhões aos Estados Unidos. Nos 12 meses de 2024, foram US$ 40 bilhões.