
Com ventos mais favoráveis ao setor de biodiesel, a maré começa a melhorar também para o mercado de dívida no setor. Em uma operação que pode ser interpretada como um sinal de novos tempos, a Olfar, uma das maiores produtoras de biodiesel do País, está captando R$ 120 milhões por meio de debêntures incentivadas nesta semana.
Com prazo de sete anos, os títulos vão remunerar os investidores a um spread de 1,05% sobre a NTN-B. A emissão é a primeira depois do fim do imbróglio envolvendo o B15 — e pode puxar a fila para as grandes empresas do setor.
A oportunidade no mercado de dívida para o setor de biocombustíveis foi esmiuçada em um amplo relatório divulgado nesta semana, feito pelos analistas Odilon Costa e Roberto Dumke, do Banco ABC.
O ponto de partida é a situação financeira mais confortável das empresas que atuam no setor, principalmente motivada pelo aumento da mistura de biodiesel ao longo dos últimos anos, passando de 10%, em 2022, para 14% em 2024 e para 15% a partir de agosto.
Nos últimos anos, o aumento compulsório da mistura ajudou a melhorar a margem das principais companhias do setor — o estudo foca na Oleoplan (dona de 11% da capacidade autorizada de produção de biodiesel no País), Be8 (que tem 10%) e Olfar (com 9%).
Entre 2022 e 2024, as três empresas praticamente dobraram a margem Ebitda. A Oleoplan chegou a 15% no ano passado, a Be8 atingiu 9% e a Olfar, 14%. Ao mesmo tempo, os índices de endividamento melhoraram, com a dívida líquida das empresas perto de 1 vez o Ebitda. Em 2022, a alavancagem era equivalente a 2 vezes.
“O B15 deve trazer um novo impulso para os resultados das empresas nos próximos anos. Recentemente, Oleoplan e Olfar tiveram revisões positivas de rating, num indicativo de que o fundamento do crédito no setor está melhor, boa parte disso em função do mix”, disse Costa ao The AgriBiz.
Junto com os fundamentos melhores, o setor ainda pode se beneficiar da alta procura por ativos isentos no mercado, impulsionada pela taxação prevista para o próximo ano. Esse efeito já é observado, em algum grau, no mercado secundário, ainda que a liquidez nos negócios com papéis no setor seja baixa.
Em julho deste ano, os CRAs ligados a empresas do setor são negociados no patamar de spread mais baixo do ano, cerca de 1,7% acima do CDI. A escassez de papéis foi reforçada, no início deste ano, pelas incertezas em relação ao B15, que esfriaram o ambiente para novas ofertas.
Antes da emissão da Olfar, realizada nesta semana, a última oferta primária de ativos isentos no setor havia ocorrido em novembro de 2024, em CRAs emitidos pela Cereal, outra produtora de biodiesel, numa captação de mais de R$ 400 milhões.
M&As
Os fundamentos mais sólidos no setor também abrem algum espaço para M&As, pontuam os analistas. Hoje, a média de utilização das plantas no Brasil gira em torno de 60%.
Consolidar, entretanto, ainda guarda desafios. Nos últimos dez anos, o número de empresas atuando no setor e de unidades produtivas permaneceu relativamente estável — com uma alta reciclagem dos nomes que operam no setor.
Eram 44 companhias em 2015, em 2024, foram contabilizadas 42. Enquanto algumas unidades deixaram de produzir, outras mais eficientes surgiram. “O número de empresas permaneceu estável, mas o número de usinas maiores hoje em dia é bem maior”, explica Costa.