
Em uma transação inédita, a Klabin anunciou ontem à noite que vai captar R$ 1,5 bilhão com a emissão pública de CPRs, em uma operação que será distribuída aos investidores por Itaú BBA e XP.
A transação despertou a curiosidade pelo formato inovador. Geralmente, as CPRs são usadas como lastro por corporações ligadas ao agronegócio para emitir CRAs, e não para chegar diretamente ao investidor de varejo.
Teoricamente, o CRA é um título já dominado pelos investidores e dotado de razoável liquidez no mercado secundário — especialmente no papel de uma companhia de rating triplo A, como é a gigante de papel e celulose.
Historicamente, a companhia é uma emissora frequente de CRAs, o que despertou ainda mais dúvidas. No balanço de 31 de março, por exemplo, o estoque das dívidas da Klabin com CRAs somava R$ 5,8 bilhões.
Afinal, por que a Klabin decidiu fazer uma emissão direta de CPRs, a primeira emissão pública desse tipo de títulos em sua história, ao invés de usar um tradicional CRA que seria facilmente absorvido no mercado?
A resposta está no CMN (Conselho Monetário Nacional). Em fevereiro do ano passado, o regulador restringiu o lastro para a emissão de títulos incentivados. Entre as medidas da resolução 5.118, constava que apenas companhias com mais de dois terços do faturamento do agronegócio poderiam emitir CRAs.
Na ocasião, a restrição provocou dúvidas na Klabin, apurou The AgriBiz. Enquanto alguns advogados entendiam que a companhia ainda estaria apta a emitir CRAs, o entendimento interno recomendava o contrário.
Por fazer mais de 65% do faturamento com papel e embalagens — as vendas de celulose, um produto apto aos CRAs, perfazem apenas 33% —, a Klabin preferiu a abordagem mais restritiva, aceitando estar desenquadrada.
No caso das CPRs, no entanto, a companhia está perfeitamente apta, inclusive na figura de produtora rural de florestas plantadas.
Como produtora rural, a Klabin pode levantar os títulos aproveitando os benefícios tributários: IOF reduzido e isenção de imposto de renda para o investidor pessoa física.
No fim das contas, a solução da emissão pública de CPRs pode abrir uma nova avenida no mercado de incentivados. Com o tempo, esse tipo de papel pode ganhar liquidez e ver suas vantagens sobre o CRA se sobressaírem. Os custos de estruturação das CPRs tendem a ser menores, por não envolverem securitizadoras.
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Na CPR da Klabin, o objetivo é pagar até 95,5% do CDI na primeira tranche, com vencimento em sete anos. Na segunda tranche, a remuneração ficará entre o que for maior entre 6,9% ao ano ou Tesouro IPCA + 2035 menos 0,4% ao ano.
Na emissão, a Oliveira Trust atua como agentes das CPRs. O Mattos Filho estruturou a operação e o Machado Meyer assessora a Klabin.