
Enquanto ainda tenta reverter a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada na semana passada pelos Estados Unidos, o Cecafé comemorou os resultados da safra 2024/25.
Impulsionada pela disparada das cotações, a receita com exportações de café bateu recorde e chegou a R$ 14,7 bilhões, um aumento de 49,5% frente à safra anterior. Em volume, foi o terceiro melhor resultado da história, com 45,6 milhões de sacas enviadas ao exterior.
“O produtor operou bem o mercado e vendeu café a uma média de preço muito boa”, disse Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Segundo ele, os preços acabaram impulsionados por menores potenciais produtivos nos principais produtores mundiais, e a marca atingida pelo País é ainda mais expressiva quando se considera o cenário geopolítico turbulento.
Os Estados Unidos foram os principais compradores do café brasileiro na safra 2024/25, adquirindo 7,46 milhões de sacas, 16,4% das exportações do País. Em 2024, a receita com exportações de café para os EUA foi de US$ 1,89 bilhão.
O arábica foi a espécie mais exportada pelo Brasil, com 34,8 milhões de sacas, o equivalente a mais de três em cada quatro (76,4%).
A exportação de cafés diferenciados — como são chamados os frutos de melhor qualidade, em sua maioria arábica — respondeu por 19,5% das vendas ao exterior e cresceu 1,2% na comparação com a safra anterior, de 8,7 milhões de sacas para 8,9 milhões.
Os EUA também lideraram o ranking de principais destinos dos cafés diferenciados, tendo importado 1,74 milhão de sacas na safra 2024/25, o equivalente a 19,6% do total desse tipo de produto exportado.
Segundo os dados do Cecafé, no primeiro semestre, já em meio à tensão com a guerra tarifária deflagrada pelo presidente americano Donald Trump, em abril, o saldo de exportações se manteve estável.
Os EUA seguiram na liderança entre os compradores no período, com 3,3 milhões de sacas — mais de 1 milhão de sacas a mais que o segundo lugar, a Alemanha.
O futuro pós-tarifas
Apesar dos números positivos, o clima na apresentação do Cecafé para jornalistas não foi de festividades, dada a apreensão da entidade e do setor com a eventual perda de espaço no mercado americano após a sobretaxa criada por Trump.
Após participar das conversas promovidas nos últimos dias com lideranças do agronegócio pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, o Cecafé relata um misto de otimismo e incerteza.
“O Brasil tem o café mais competitivo e de maior qualidade. Não é fácil substituir. Nosso café agrega corpo e doçura no blend americano. Então, uma eventual perda de espaço no mercado americano seria muito limitada”, afirmou Ferreira.
Por outro lado, ponderou, “a relação diplomática em nível mundial está sendo reestruturada em novas bases. O que se sabe é que há um trabalho sendo feito. Mas a resultante de todos esses esforços ainda é algo incerto”, afirmou Ferreira.
Segundo o presidente do Cecafé, a entidade continua seguindo a linha de atuação que anunciou na semana passada: pela diplomacia e pelo lobby, ressaltar o peso do café na economia americana para tentar tirar esse produto da mira da sobretaxa.
“A gente tem falado muito no estudo da National Coffee Association que mostra que cada US$ 1 que os EUA gastam importando café gera US$ 43 na economia. O café gera 2,2 milhões de empregos e representa 1,2% do PIB americano. Isso significa US$ 343 bilhões. E se 34% do que eles consomem é do Brasil, nossa parte nessa conta é de mais de US$ 100 bilhões.”