
No primeiro pregão após o anúncio do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, investidores castigaram os papéis da Minerva na B3: as ações lideram as quedas, caindo 4,2% (alternando frequentemente o posto com a Embraer, que tem uma retração de 4,17%). Em um contraste com o receio dos investidores, algumas análises apontam que os efeitos da medida podem ser bem menos drásticos.
Um dos principais movimentos nesse sentido veio da própria empresa. Em fato relevante divulgado nesta manhã, a Minerva apontou que as exportações brasileiras sujeitas à nova política tributária têm um impacto potencial máximo de 5% da receita líquida da companhia.
Para chegar a essa conta, a empresa dos Vilela de Queiroz explicou que acessa os Estados Unidos por meio de suas operações no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália e que, nos últimos doze meses, a exposição consolidada aos EUA foi de aproximadamente 16% da receita — com o Brasil respondendo por um terço desse total.
A visão de impacto limitado também foi corroborada por analistas, em relatórios divulgados nesta quinta-feira. “A Minerva tem um estoque de R$ 700 milhões e uma base de exportação diversificada, capaz de fornecer produtos aos Estados Unidos”, escreveu a equipe liderada por André Mazini, do Citi.
Os analistas veem espaço para que a Austrália aumente suas exportações aos Estados Unidos, redirecionando volumes que seriam destinados a mercados como a China para atender a essa demanda. Nesse raciocínio, abre-se um espaço para a América do Sul preencher essas lacunas.
Hoje, a exportação de carne bovina aos EUA já paga uma alíquota de 26% para volumes acima de 65 mil toneladas a cada ano. Com base em dados da Secex, os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual, mostraram que o preço médio no porto para exportar carne aos EUA é de US$ 5,1 mil por tonelada, 4% acima da média geral brasileira, de US$ 4,9 mil.
Portanto, uma alíquota de 50% faria com que as exportações brasileiras se tornassem inviáveis — ainda mais considerando que os Estados Unidos tipicamente importam cortes de valor agregado, que têm um preço menor.
“Mesmo que os volumes sejam redirecionados para outros mercados, nós ainda esperamos alguma pressão nos preços realizados, já que esse redirecionamento deve acontecer para mercados que pagam menos do que os Estados Unidos”, lembram os analistas.
“Mesmo assim, esperamos que o efeito no lucro líquido seja menor do que na receita, em que calculamos uma exposição de 5% para a Minerva”, completam.
Ao longo do tempo, os EUA cresceram e se tornaram o segundo principal destino para a exportação de carne brasileira. Saiu de zero há poucos anos para atingir 230 mil toneladas em 2024 (8% das exportações) e 278 mil toneladas nos últimos doze meses até junho de 2025, ou 10% do total.